Informativo do Clube de Cinema

Clube de Cinema de Marília

Entidade sem fins lucrativos. Desde 1952 a serviço da cultura cinematográfica.

Declarado de utilidade pública pela Lei número 648, de 26 de Junho e 1957.

O CURUMIM = Edição 2º. Bimestre 2011 - parte 1a./2

---------------------

EDITORIAL

Em reunião com a Secretária Municipal de Cultura, Prof. Yara Pauli, realizada no dia 9 de fevereiro de 2011, na sede do CCM, à Avenida Sampaio Vidal, 245, foi discutida a regularização das dependências do acervo e da sala "Emilio Pedutti Filho". Já com os documentos pertinentes em mãos, a Prof. Yara comprometeu-se a solicitar ao Governo do Estado a devolução para o Município das salas do acervo, onde antigamente funcionava parte das oficinas "Tarsila do Amaral". Com a posse municipal dessas dependências, será então enviado projeto para o Sr. Prefeito, no qual constará a doação dessas dependências para o CCM, em regime de comodato, por um prazo de 10 anos.

Quanto à sala de projeção, concordou-se em se recolocar a placa com o nome de "Emilio Pedutti Filho", ocasião que deverá ter lugar no próximo aniversário do CCM, em outubro deste ano. Tal sala, também da Prefeitura Municipal, ficará à disposição do CCM para as suas exibições, e ainda ao Cinecultura, em sua programação regular de terças e quintas-feiras à noite, bem como quartas à tarde.

Para nós, do CCM, trata-se de uma vitória apenas parcial, principalmente pelo fato de não constar no projeto a cessão em comodato também da sala da projeção, que nos asseguraria a certeza de sempre podermos contar com um recinto para exibirmos os nossos filmes. Além do mais, num passado remoto, não foi esta sala projetada em razão da existência do CCM, com poltronas de madeira doadas inclusive por Emilio Pedutti? Como abrir mão do direito e da responsabilidade pelo uso da sala, se ela foi montada por causa do CCM, com apoio inclusive da própria Secretaria Municipal de Cultura? Uma instituição tão tradicional, de utilidade pública e sem fins lucrativos, como é o CCM, não merece ter assegurado um lugar para realizar a sua programação cultural? (T.Therezo)

........................................................

COMPONENTES DA DIRETORIA DO CCM

Presidente: Dr. Altino Luiz Silva Therezo;Vice-Presidente: Dr. Luiz Fernando

Cardoso; 1ª Tesoureira: Diva Rodrigues de Sousa; 2ª Tesoureira: Ilda Aparecida

Cappannacci; 1º Secretário: Sr. Pedro de Marco; 2ª Secretária: Elionora Silveria;

Conselho Fiscal: Dr. Alexandre Cerqueira

Cesar Junior. Endereço eletrônico para correspondência: altinoth@hotmail.com

Colaboração: Laboratório Virchow de

Anatomia Patológica e Citopatologia

Dr. Altino Luiz Silva Therezo e

funcionários: Vera Lúcia Crepaldi, Valdeir

Vieira da Silva e Marinalva de Araújo

Ferreira.

REUNIÕES DA DIRETORIA


Dando cumprimento a seus estatutos, o CCM, sob a presidência do Dr. Altino Luiz Silva Therezo, com a participação dos demais diretores: Sra. Ilda Cappannacci, Sra. Diva Rodrigues de Souza, Sr. Pedro de Marco e Dr. Alexandre Cerqueira Cesar Jr, reuniu-se em janeiro no dia 26; em fevereiro, nos dias 02 e 09; em março, no dia 19. (T.Therezo)

......................................................

Notícias do mundo do cinema

* A Cinelândia, oficialmente chamada Praça Floriano, onde Obama deveria ter discursado em sua visita ao Rio, foi cena de uma filmagem, realizada há 65 anos, numa das mesinhas do Bar Amarelinho. Cary Grant e Ingrid Bergman, em"Interlúdio", de Hitchcock, faziam o papel de dois espiões americanos, num charmoso filme sobre a nascente Guerra Fria, que seria oficialmente reconhecida somente um ano mais tarde, em 1947. Por ser uma praça movimentada, tendo ao fundo o majestoso prédio da então Embaixada dos Estados Unidos, onde funcionava o "Office of Strategic Services"(OSS), foi escolhida para se disfarçar o encontro dos dois espiões. Também em 1947, Truman visitou o Rio, trazido pela "Conferência para a Manutenção da Paz e Segurança Continental", em setembro, justamente no mês em que o OSS virou a CIA (Estadão, 20-03-2011, J3).

* Morre Blake Edwards: casado há 35 anos com Julie Andrews, ele criou Bonequinha de Luxo e a inesquecível série da Pantera Cor-de-Rosa, com Peter Sellers, que interpretava o famoso inspetor Clouseau. Edwards, que também dirigiu Sellers em "Um Convidado Bem Trapalhão", morreu em 15 de dezembro de 2010, aos 88 anos de idade, por uma pneumonia. Ele nasceu em Tulsa, Oklahoma, em 1922, e como filho de atores, iniciou-se cedo no cinema. Em 1960, escreveu para Richard Quine o filme "Aconteceu num Apartamento", com Jack Lemmon e Kim Novak. Com sua mulher, ele fez "Victor/Victoria", "Lili, Minha Adorável Espiã" e "Assim é a Vida" (Estadão, 17-12-2010, A22).

* Tchaikovsky está entre nós. O compositor russo permeia os filmes atuais, incluindo "O Cisne Negro" e também "O Concerto", de Radu Mihaileanu. Escreveu Tchaikovsky, em uma carta de março de 1878: "certa noite fui tomado pelo fogo de uma inspiração inesperada". Três semanas depois, um concerto para violino estava pronto. No filme "O Concerto", um maestro russo e seus colegas de orquestra passam por todo tipo de adversidade para finalizar uma apresentação, interrompida por um líder partidário. (Estadão, 05-01-2011)

* O ator argentino Ricardo Darin, mais conhecido entre nós pelo filme "O Segredo de Seus Olhos", é agora o protagonista de uma comédia chamada "Um Conto Chinês". Dirigido por Sebastian Borenstein, o filme versa sobre um ranzinza senhor de uma casa de ferragens que se vê às voltas com um chinês que não fala uma palavra de espanhol. Admirador do Brasil e do cinema brasileiro, Darin tem propostas para filmar em nosso país (Estadão, 22-03-2011, D11).

* O filme "Orfeu Negro", de 1959, foi citado no discurso de Barack Obama em visita ao Rio. Baseado em uma peça de Vinícius de Moraes, o filme, dirigido por Marcel Camus, projeta o mito grego de Orfeu e Eurídice numa favela carioca. "Orfeu Negro", com um registro mágico e adocicado da realidade brasileira, ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 1959 e o Oscar de Filme Estrangeiro em 1960 (Estadão, 21-03-2011, A4).

* Numa sexta-feira de março, a presidente Dilma abriu as portas do Palácio da Alvorada para uma sessão cinematográfica com a apresentação do filme "É Proibido Fumar", da premiada cineasta Ann Muylaert. O evento, iniciado às 19:00 horas, foi longe, com um jantar que terminou por volta da uma hora da manhã. Prova de que a presidente, além de ter bom gosto e ser boa anfitriã, é uma cinéfila de primeira hora: vamos entrar em contato com ela e nos apresentar? (Estadão, 27-03-2011, A10).

* Morreu Elizabeth Taylor, aos 79 anos, no Cedars-Sinai Hospital em Hollywood, de complicações cardíacas. Os mais lindos olhos azuis do cinema se fecharam para sempre, deixando para trás uma beleza extraordinária e importantes papeis em vários filmes, como: "O Pecado de Todos Nós", "Gata em Teto de Zinco Quente", "Quem tem medo de Virginia Woolf", "Assim Caminha a Humanidade", "Ivanhoé", "A Mocidade é Assim", "De repente, no Último Verão" (Estadão, 24-03-2011, D1 e D5).

* No aniversário de nossa cidade, a jornalista Laíse Araújo publicou matéria sobre o CCM, com o significativo título: "Marilienses tem opção cultural há 58 anos". Na reportagem, ela destaca o papel cultural do nosso Clube, tanto no passado como no presente. Parabéns à Laís, por ter percebido a importância histórica e artística do CCM!! (Correio Mariliense, 03-04-2011, D1).

* Enviado ao CCM, em 14 de março de 2011, ofício de número 733, do Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Marília, Vereador Yoshio Takaoka, com a assinatura dos demais vereadores, congratulando a atual Diretoria do CCM, pelo magnífico trabalho que vem sendo desenvolvido. O CCM, honrado com a homenagem, agradece desde já à distinta Câmara Municipal de nossa cidade. (T.Therezo)

...........................

Efemérides

No "O Curumim", número 37, de janeiro de 1960, lia-se como anunciantes: "A Ferragista", situada à Rua Coronel Galdino, 297, fone: 4161; e "Cantina do Compadre - onde melhor se come na cidade", à Rua Armando Sales de Oliveira, 65, fone: 9196. Trazia ainda as correspondências expedidas e recebidas, entre elas: Centro Acadêmico Roberto Simonsen, Mesbla S/A, Museu de Arte Moderna, Empresa Teatral Pedutti Ltda, Centro dos CineClubes, Clodoaldo Sampieri, Roberto Condelli, Cine Clube de Aveiro (Portugal), Consulado Geral Americano, Metro Goldwin Mayer, Unifrance Filmes, Paramount Films Inc, Getam, Clube de Cinema de Santos, Clube de Cinema de Ribeirão Preto, Dr. Fernando Mauro Pires Rocha, Carlos Vieira, Douglas Ricci, Dr. Miguel Argollo Ferrão, Vasco Granja. Apresentava também o movimento de Caixa do mês de novembro e dezembro de 1959, com saldos de 22.831,00 e de 18.410,00 cruzeiros, respectivamente, e relatava a reunião do Conselho Consultivo do Clube, ocorrida na manhã do dia 24 de janeiro de 1960, com a presença de: Ilmo Ricci, Dr. Manoel Peregrino da Silva e Milton Diniz Jorge.

Entre as atividades do CCM, é narrada a ocorrência de duas sessões culturais, realizadas na noite dos dias 23 e trinta de janeiro de 1960, com a apresentação de documentários enviados pelo Institut Hans Staden, Filmoteca Cultural da Shell e Consulado Geral Americano, com referência especial ao "Ciência e Vida", dirigido por Karl Schrey, com música de Oskar Sala.

Constava também a apresentação, na noite de sábado, de dezesseis de janeiro de 1960, na segunda sessão do Cine Marília, "gentilmente posto à disposição do Clube pela Empresa Teatral Pedutti Filho, que na pessoa do seu representante, Sr. Manoel Neves Pires, tem se desdobrado em servir aos justos anseios do CCM", do filme: "Grilhões do Passado", cujo roteiro, direção e diálogos estavam a cargo do notável Orson Welles. (Fonte: "O Curumim", número 37, de janeiro de 1960. Redator: Luiz F. Mello Filho; secretário: Aylton J. Oliveira; diretor: José Moraes Barbosa). (T.Therezo)

======

O Sentido Maior da Vida Através da Arte

Cinema é arte, vida repleta de contexto e de significados especiais, todos com o intuito de transmitir uma mensagem verdadeira aos espectadores. Interpretar o cotidiano e os sonhos, peculiares a cada ser humano, é uma tarefa desempenhada por cada ator de maneira singular.

Um dos cineastas mais importantes e influentes da história do cinema, Akira Kurosawa, que em 1989 foi premiado com o Oscar por realizações cinematográficas enriquecedoras e dignas de reflexão, baseia seu filme "Sonhos" em seus próprios sonhos, ocorridos em momentos diferentes de sua vida. No filme, as imagens são marcantes e belas, sobrepondo-se aos diálogos. Entretanto, cada fala está imbuída de um grande tesouro, uma mensagem repleta de sentido, sempre remetendo a algo importante e bem atual.

Nesse trecho descreverei um dos sonhos de Kurosawa, o último deles no filme. Há um motivo especial para escolher especificamente este sonho: a sua atualidade. A Aldeia dos Moinhos é um lugar pacato cercado por um rio e sua correnteza, revelando-nos um cenário de verdadeiro encanto,aquele em que gostaríamos de estar após um exaustivo dia de trabalho, após horas de tensão, apenas para relaxar e meditar.

Qual o sentido maior de nossa vida? A impressão que temos é que somos eternos, que cada dia é um novo desafio, mas qual o objetivo de tudo, se sabemos que nosso corpo é finito? Tudo isso deveria nos fazer repensar o nosso dia-a-dia, o modo como encaramos nosso trabalho e família, nossas preocupações e sentimentos, sejam eles bons ou ruins, enfim, o modo como agimos e em que colocamos nossos verdadeiros valores.

Na Aldeia ou Aldeia dos Moinhos de Água, toda casa possui um moinho. Neste sonho um viajante encontra um sábio ancião que está consertando uma roda quebrada de um moinho, e com ele mantém um diálogo. O ancião lhe explica que as pessoas do vilarejo decidiram há muito tempo abrir mão da influência da tecnologia. Ali não há eletricidade e, segundo ele, as pessoas se acostumam com a conveniência pois acham que ela é melhor e jogam fora o que é realmente bom. A iluminação é feita com velas e óleo de linhaça.

O viajante diz: - Mas a noite é tão escura... E o ancião: - A noite tem de ser assim, pois por que deveria ser clara como o dia? Eu mesmo não gostaria de não ver as estrelas à noite. E o jovem continua comentando: - Vocês têm arrozais, mas não têm tratores para cultivá-los. E o ancião: - Não precisamos deles, pois temos bois e cavalos e usamos lenha como combustível. Não achamos certo cortar as árvores, bastam as que caem sozinhas, pois as cortamos e usamos como lenha. E, além disso, fazendo carvão com a madeira, poucas árvores gerarão tanto calor quanto uma floresta inteira. O esterco de vaca também é bom combustível.

O ancião ainda continua, ao que o jovem escuta atentamente: - Tentamos viver como o homem vivia antigamente, é o modo natural de viver, pois hoje em dia as pessoas se esquecem de que elas são só uma parte da natureza, e a destroem, mas a nossa vida depende dela. Acham que sempre podem criar algo melhor, sobretudo os estudiosos. Eles podem ser inteligentes, mas a maioria não entende o coração da natureza. Eles só criam coisas que acabam tornando as pessoas infelizes. Mesmo assim, orgulham-se tanto de suas invenções... e, o que é pior, a maioria das pessoas também se orgulha. Elas as vêem como milagres, idolatram-nas. Elas não sabem, mas estão perdendo a natureza, não percebem que vão morrer.

As coisas mais importantes para os seres humanos são ar limpo e água limpa. As árvores e plantas nos dão isso. Tudo está sendo sujado e poluído para sempre. Ar sujo, água suja, sujando o coração dos homens...

Como desperto de um instante de reflexão, o jovem escuta ao longe uma música e pensa ser uma festa, ao que o ancião replica dizendo ser um funeral. O velho então se levanta e coloca uma outra vestimenta para acompanhar o cortejo, dizendo ao viajante que a mulher que morreu foi o amor de sua vida, mas que o trocou por outro.

Ele ainda diz: - É bom trabalhar duro, viver muito e receber gratidão. Não temos templos nem sacerdotes aqui, por isso todos os aldeões carregam o morto até o cemitério sobre a colina. Não gostamos quando um jovem ou criança morre. É difícil comemorar uma perda assim. Mas, felizmente as pessoas desta aldeia levam uma vida natural, por isso morrem numa idade avançada. A mulher que vai ser enterrada hoje viveu até os 99 anos. Eu tenho 103 anos, boa idade para parar de viver. Há quem diga que a vida é dura, mas isso é só conversa. Na verdade, é bom estar vivo, é emocionante.

E então a dança prossegue juntamente com o funeral, e o jovem se despede colocando flores sobre o túmulo de um viajante desconhecido que por ali passou há muitos anos, mas que até hoje é respeitado pelos aldeões.

Se pararmos um pouco para refletir, quanto disso tem a ver com nossa vida? Será que encontramos tempo para olhar para o céu e ver as estrelas numa noite escura, será que nossos estudiosos e políticos estão interessados em realmente fazer coisas que possuam uma utilidade prática com o intuito de ajudar todos, será que diante da morte nos conscientizamos de que nossa vida neste mundo é puro aprendizado e que deveríamos ficar felizes mais vezes, compartilharmos mais os momentos e as iniciativas para um bem maior, sorrirmos mais e amarmos mais? Enfim, a satisfação se encontra em fazermos o melhor e cada um de nós saberá o quanto isso é importante em seu próprio íntimo. O ar, a água, a natureza, o céu, tudo isso é um presente diário e gratuito a nós; deveríamos preservá-los de fato, em busca de uma vida com mais qualidade e paz.

Monica Monteiro Garavello - Tradutora e graduanda de Relações

Internacionais (Unesp - Marília)

===============

Personalidade do Bimestre

Quem o vê andar apressadamente pela Avenida Sampaio Vidal, saindo ou entrando no Banco Santander, não imagina que atrás daqueles passos ligeiros e óculos grossos está um grande conhecedor de cinema em nossa cidade. Para quem o conhece, fica fácil chamá-lo: com um simples Dexico ou então Cientista, como era seu apelido no Clube de Xadrez, é possível conversar (ou na maioria das vezes só ouvir) sobre filmes, atores e atrizes, principalmente do passado, além da própria história do cinema em Marília.

Sempre elétrico, Luiz Carlos de Francisco raramente nos deixa falar. Com seu entusiasmo, é sempre ele que acaba discorrendo sobre o Cine Marília, o Cine São Luiz, o Cine Pedutti, o Cine Santo Antônio, a televisão, o rádio, as personalidades de Marília e tantas outras coisas de cinema e de nossa cidade. Filho de ferroviário, Cientista nasceu em São Carlos em 2 de junho de 1946, vindo de Cabrália Paulista para Marília com 12 anos, quando seu pai, inspetor de locomotiva, transferiu-se para cá.

Estudou no antigo Ginásio Dr. Fernando de Magalhães, onde se localiza hoje o Restaurante Baby Bufallo, tendo depois disso cursado contabilidade no Colégio Comercial, além de Administração de Empresas, na Unimar, um pouco mais tarde. Em 1976, ingressou no Banco Comercial, na Avenida Sampaio Vidal, onde é hoje o Edifício Clipper, tendo lá trabalhado até 1970, quando por concurso entrou no INPS, no qual permaneceu até se aposentar como subchefe de secção. Dexico nos conta que sempre gostou de cinema, mas o seu interesse se iniciou no Marília Xadrez Clube, que fazia a assinatura do Jornal "O Estado de São Paulo", onde então via os comentários sobre filmes, que lia e guardava, a fim de conferi-los depois. Por essa época, morava na casa 2 da Colônia da Paulista, ao lado da Estação Ferroviária, e de fundo para o Jornal "A Tribuna", fundado em 04 de abril de 1968, tendo como um dos sócios o Sr. Octávio Ceshi, que foi o pioneiro em colocar comentários de filmes em jornal.

Nas rádios da cidade, Cientista conheceu o Sr. Ceshi que, sabedor de seus arquivos e de seu gosto pelo cinema, chamou-o para substituí-lo na função de resenhar os filmes, tendo escrito o seu primeiro enfoque em 15 de maio de 1968 para "Horas de Desespero", com Humphrey Bogart, em exibição no então Cine Santo Antônio. Em "A Tribuna", Cientista permaneceu até 1971, quando em 1 de agosto, sempre resenhando nas horas vagas, estreou no Jornal "Correio de Marília", de Anselmo Scarano e em substituição a Orlando Fassoni, tendo aí trabalhado até 30 de março de 2004, já com o nome de "Diário de Marília". Nesse período, comentou mais de 20 mil filmes, sempre escrevendo sob o pseudônimo de Dexico ou então como Kiko, principalmente quando colaborava com outros jornais. Luiz Carlos nos conta que foram então 36 anos de cinema, os quais vivenciou intensamente, diariamente absorto pelo que e como iria escrever e comentar.

De lá para cá, distinguiu como Melhor Ator Spencer Tracy; Atriz, Catherine Hepburn; Filme, "Os 10 Mandamentos"; Cena, o encontro entre Charles Chaplin e a heroína cega em "Luzes da Cidade"; Trilha Sonora, a de "Psicose", de Bernard Hermann; Desenho, "Branca de Neve". Durante todo este tempo, Dexico acompanhou todas as crises do Clube de Cinema de Marília; os três festivais de cinema aqui realizados e o fim dos cinemas da cidade assim como as inaugurações de alguns, posteriormente. Em 2004, em sua mudança da Rua Álvares Cabral para o atual domicílio à Avenida República, Cientista doou para o CCM uma grande quantidade de documentos, como críticas e recortes de jornal. Apesar disso, tem ainda em sua residência uma coleção de discos antigos e muitas revistas sobre cinema, entre elas a famosa "Cinemin", cujos números esperamos um dia sejam também doados para nós.

Disto tudo e principalmente dos filmes, Dexico guarda a magia do passado, com saudade dos filmes antigos, que traziam, segundo ele, forma e conteúdo, ao contrário dos de hoje, que em sua maioria possuem apenas espírito comercial.

Dos tempos em que eu o conheci no Marília Xadrez Clube, Cientista não mudou quase nada. Sempre apontado como "pão duro", já naqueles anos se divertia com as idiossincrasias de nossos companheiros enxadristas como Flávio Asperti, que vivia assobiando; o Dr. Nelson da Motta, sempre educado e elegante; o Calim Gadia, que se intitulava "irmão do campeão brasileiro"; o Emile Chueire, que costumava arriscar algumas palavras em francês; o Rui Piagudo, louco nos seus sacrifícios; o Paulo Gaeta, brilhante e sereno nas suas combinações; o Alfredinho Novaes, chegando com barulho e alarde; o João Caetano, sempre figura mais rara...Mas de quem ele mais gostava era de meu tio, o Rinaldo de Batista,antigo dono da farmácia Santa Carolina e depois gerente da Marimil, sempre pronto a palpitar nos jogos dos outros, com o que se criava a maior confusão.

"Tempos idos e vividos", como costumava dizer o Nélson da Motta, "que já não voltam mais", como falariam outros; mas que se rememoram quando se vê o nosso querido amigo Cientista andando pelas ruas. Como num filme, a imagem dele quase permaneceu a mesma, sempre apressado e ligeiro, talvez à procura de um sonho que nem ele nem nós nunca poderemos verdadeiramente encontrar... (T.Therezo)


* * * * * *

(elisilvéria)



0 Response to "Informativo do Clube de Cinema"

Postar um comentário