"O Curumim" - edição 3o. bim.2011 - parte II



Liz Taylor: uma atriz que viverá para sempre

Em abril apresentamos alguns filmes de Elizabeth Taylor, em homenagem à atriz, morta de complicações cardíacas, após uma vida repleta de realizações cinematográficas.
Entre estes filmes, chamaram atenção “Gata em Teto de Zinco Quente” e “Um Lugar ao Sol”. No primeiro, tem-se a história de um poderoso chefe de família, Big Dad, maravilhosamente estrelado por Burt Ives, que está à beira da morte, corroído por um câncer. De olho em sua fortuna, estão sua avarenta nora, Judith Anderson e seu obediente primogênito Jack Carson, que usam até os filhos, manipulados e mal educados, para conquistar as graças do avô rabugento, que não se deixa subornar pelo agrado de ninguém. Numa alusão ao filho pródigo, ele prefere o seu caçula, Paul Newman, no papel de Brick, um alcoólatra e ex-jogador, frustrado pela morte de seu amigo, Striker, supostamente vitimado por causa de Maggie (Elizabeth Taylor), esposa de Brick, que teria seduzido Striker antes dele se atirar pela janela do quarto onde estavam. Independentemente do enredo, o que se vê na tela é um desfile das paixões humanas, surpreendentemente colocadas uma após outra, numa seqüência diabólica que dura somente um dia. Apesar de ser nomeada apenas uma dessas paixões – falsidade, alardeada a todo instante pelo revoltado chefe do clã, estão também lá presentes: a avareza (de Judith e Carson), o desprezo (de Brick por Maggie), a cupidez (de Maggie por Brick), a indiferença (de Big Dad pela esposa), a frustração (de Brick pelo amigo morto), o amor (paterno, filial e fraterno), o carinho (de Maggie por Brick), a inveja (da cunhada por Maggie), a intolerância (de Brick por Maggie). Com tudo isto passando ante nossos olhos – e em tão pouco tempo, poderíamos ficar horrorizados; mas a sequência é tão sutilmente encadeada, que ao final sentimo-nos recompensados e gratos por termos presenciado essa catarse. E por quê? Porque percebemos que todas estas paixões são parte da natureza humana e nela(s) nos reconhecemos: o que nos traz prazer é sabermo-nos parte da comunidade dos homens, que se miram uns aos outros na busca de semelhanças e diferenças. Porém, o que é mais espetacular no filme é que, apesar do sofrimento trazido pelas paixões, no fim as coisas parecem caminhar subitamente para melhor. E, de novo, por quê? Porque, à maneira da psicanálise, todos os sentimentos foram tornados conscientes durante o filme; foi possível assim “saboreá-los” e sabê-los (do latim sapore = saber). Pois não é proibido ao homem ser afetado por essas paixões. Ao contrário, é próprio dele senti-las, já que fazem parte da natureza humana. Mas o grande golpe de nossa inteligência sobre elas é justamente este: conhecê-las, sabê-las no nosso interior para que só assim possamos controlá-las, aceitá-las e compreendê-las, entendendo melhor a nós mesmos e a nossos semelhantes.

O outro filme que causou comoção foi “Um Lugar ao Sol”. Aqui, Montgomery Clift está mais esplendoroso que a própria Elizabeth Taylor. Ele vive o papel de George Eastman, um jovem humilde que, querendo subir na vida, vai trabalhar na fábrica do tio rico. Lá, Monti se enamora de uma pobre e ingênua operária, Alice (Shelley Winters), sua companheira na linha de montagem. Acontece que, durante uma festa dada pelo tio, Monti acaba conhecendo Angela Vickers (Elizabeth Taylor), em quem vê uma oportunidade de seguir uma vida mais cômoda e talvez feliz. Por isso, George tenta agora se desvencilhar da pobre Alice que, a esta altura, já grávida, vai lutar pela realização de seu casamento com ele. Para resolver o caso da forma mais definitiva possível, Monti acaba provocando a morte da pobre Alice, que se afoga num acidente (ou assassinato?) num lago, durante um passeio de barco. Esta história se assemelha à de Woody Allen no filme “Match Point” (Ponto Final), em que também ocorre a morte de Scarlett Johanson por força das circunstâncias provocadas pelo noivo, outro alpinista social. Nos dois filmes, mas principalmente no mais antigo, prepondera o planejamento frio e calculista da morte e, depois, o arrependimento. De novo, vemo-nos diante da mente humana e do que ela é capaz: em Monti, percorremos os caminhos sombrios e gélidos de sua inteligência cruel e racional. É fascinante adivinhar, por sua expressão facial, pelo seu olhar distante e pelo seu jeito dissimulado, o que vai de horroroso em seu pensamento diabólico. Percebe-se até mesmo o momento em que Monti tem a ideia de cometer o crime: ao mesmo tempo em que escuta a notícia de um acidente, ele movimenta os olhos, a luz brilha em suas pupilas e ele desvia o olhar – é simplesmente extraordinário!!

Mas, o mais surpreendente é que, após o crime-acidente, ele mesmo, Monti, não sabe se foi ou não culpado pela morte da namorada. Que caminhos ele tem de percorrer para buscar no fundo de sua mente a resposta para isso!! O fato de ter desejado a morte de Alice e de tê-la planejado até quase as últimas conseqüências, faz dele um assassino, ou não? Mesmo depois da virada do barco, já com Alice se afundando na água, ele poderia tê-la salvo ou pelo menos ter-se esforçado para isso? Bem, no fim do filme, Monti vai precisar de um pastor protestante para ajudá-lo a encontrar a resposta. Ao cabo, a morte na cadeira elétrica será menos dolorosa que a própria dúvida sobre sua culpa. Afinal, é ele culpado ou não? É isso o que ele mais gostaria de saber!! A culpa, sim, é outra paixão que pode nos estragar a vida. Sobre ela, muito bem discorreu Dostoievski ao escrever “Crime e Castigo”. No livro, um jovem estudante acaba cometendo um assassinato e, por causa da culpa, torna-se incapaz de continuar sua vida: é o seu castigo.
Eis aí o que estes filmes nos trouxeram (pelo menos na minha análise): um pouco mais de conhecimento sobre nós mesmos, aliado à oportunidade de vermos nossa natureza, a humana, projetada na tela, em um espetáculo de luz, formas e som. Tudo isso (“e o céu também” – nome de um livro e de um filme) – tivemos a ocasião de discutir em nossas sessões do CCM, num ambiente agradável e de muitos amigos. Venha você também!
(por Tino Therezo)

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Frases cinematográficas 3

“Você está falando comigo? Está falando comigo?” (Robert de Niro para sua imagem no espelho, em Taxi Driver, 1976).

“Eu não tenho certeza de que ela seja capaz de qualquer sentimento verdadeiro. Ela é da geração televisão. Ela aprendeu sobre a vida com o Pernalonga” (William Holden sobre sua amante Faye Dunaway, em Rede de Intrigas, 1976).

“Foi a maior diversão que eu já tive sem rir” (Woody Allen depois da primeira vez com Diane Keaton, em Noivo Nervoso, Noiva Neurótica, 1977).

“Que a força esteja com você” (Alec Guiness, em Guerra nas Estrelas, 1977).

“Eu vou voltar” (Arnold Schwarzenegger, em o Exterminador do Futuro, 1984).

“Ei, Stella... Ei, Stella!” (Marlon Brando chama Kim Hunter, em Uma Rua Chamada Pecado, 1951. A chave da cena está na reação quase orgásmica de Hunter quando ouve a voz dele).

"Eu sempre dependi da bondade de estranhos” (Vivian Leigh aceita o braço de Richard Garrick, que a conduz para o hospício, em Uma Rua Chamada Pecado, 1951).

Referência: “Cinema Falado”, de Renzo Mora, Lemos Editorial, 1999.

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