INDOCHINA, A LUTA E A TRADIÇÃO DE UM POVO
Indochina, filme de 1992 de Régis Wargnier, tendo como atriz principal Catherine Deneuve (Eliane Devries) e vencedor do Oscar em várias categorias, representa a luta dos vietnamitas pelo domínio de seu país e de sua cultura diante da colonização imposta pela França. A história, passada na década de 1930, conta que Eliane Devries ganha vários hectares de seringais de um casal vietnamita morto em um acidente. Ela fica com a filha do casal, Camille (Linh Dan Pham), e a educa segundo os costumes franceses, tornando-se a moça uma bela jovem. Porém, mãe e filha se apaixonam por um mesmo oficial da Marinha, Jean Baptiste (Vincent Perez). Eliane desiste de seu amor por causa da filha, mas suas vidas não são nada fáceis em um país em constante guerra.
A região da Indochina é assim conhecida por apresentar influências seculares tanto da cultura chinesa quanto da indiana. Tal região, composta pelo Laos, Camboja e Vietnã, foi domínio francês por mais de meio século até a II Grande Guerra.
A industrialização do século XIX implicou a necessidade crescente de matérias-primas estratégicas, como o petróleo e a borracha. Essa última foi encontrada principalmente no sudeste asiático. Nessa conjuntura, a Indochina foi conquistada e submetida ao colonialismo francês, e desde então se iniciou a resistência nacionalista, sendo liderada, na época da I Guerra Mundial, por jovens revolucionários de inspiração comunista e por estudantes que retornavam da França.
A cultura milenar do arroz e dos canais circulares de irrigação, além dos valores budistas fortemente presentes na região, fizeram com que os indochineses sempre almejassem a independência acima de tudo. A luta contra o colonialismo francês despertou a consciência política dos povos indochineses e o budismo deu margem à criação e ao fortalecimento da identidade nacional, e isso pôde ser mais fortemente percebido nos movimentos de resistência do Vietnã.
Além disso, a presença de um dominador europeu carregou consigo os ideais de liberdade e igualdade, apreendido pelos colonizados. Esses ideais e o próprio partido político, instrumento ocidental, foram usados contra os próprios colonizadores. No caso indochinês, vale observar a peculiaridade da formação do movimento guerrilheiro conhecido como Vietminh e liderado por Ho Chi Minh, assim como a criação do Partido Comunista.
O filme também mostra o hábito das pessoas consumirem o ópio, que é extraído da papoula. Mascado ou fumado, espalhou-se pelo Oriente, provocando euforia seguida por sono onírico, porém, seu uso prolongado leva à dependência e produz decadência mental e física.
As filmagens ocorreram em mais de 90 cenários e locações na Malásia, na França e no próprio Vietnã, e os vietnamitas contribuiram com a participação de inúmeros profissionais em toda a ficha técnica do filme. A Baía de Ha Long, decretada patrimônio mundial pela Unesco em 1993, e que significa “onde o dragão entra no oceano”, com cerca de 3.000 ilhotas de calcário que se elevam das águas, é a mais conhecida baía do Vietnã. A beleza dessa baía, cujas ilhas estão em sua maior parte desabitadas e apresentam um número infinito de grutas, praias e cavernas, pode ser vista na cena em que Jean Baptiste e Camille navegam fugindo de seus inimigos.
Outro aspecto cultural explorado no filme é o teatro, em que se combinam dança, mímica, música e declamações em um só espetáculo. No caso de Camille e Jean Baptiste, suas vidas se tornaram lendárias e os espetáculos retratavam seu dramático amor. A tradição literária vietnamita começou com a tradição oral, incluindo lendas, mitos e canções populares, algumas representadas em caracteres chineses, da época do primeiro reino independente vietnamita. Textos de caráter budista e confucionista (do filósofo Confúcio) apresentavam rima e versos que guardavam formas muito rígidas. A música tradicional apresenta influências da China e da Índia, com instrumentos como o violino monocorde e a cítara vietnamita, assim como nas artes plásticas, a cerâmica e os trabalhos em laca apresentam grande reputação.
Indochina retrata um povo sui generis, invadido em sua terra e plenamente convicto de si; sofrido, porém vencedor. Os valores culturais franceses permaneceram dentro das propriedades dos colonizadores e atualmente nem a língua francesa é considerada, e muito embora os mais velhos ainda a falem, ela já foi superada pelo inglês como segunda língua.
Depois da França, os EUA tentaram dominar a Indochina, o que culminou com a conhecida Guerra do Vietnã. O que para os estadunidenses representava o anticomunismo, para os indochineses era a luta secular por sua independência e fim da dominação estrangeira. Embora os EUA tenham perdido esta guerra, deixaram atrás de si um rastro de destruição e milhares de minas que até hoje estão na iminência de explodirem.
Indochina, a luta de um povo com sua própria tradição, cultura e história, que vive dentro de limites bem definidos, lutando durante séculos pelo direito de viver a sua própria vida.
Mônica Monteiro Garavello = Tradutora e graduanda de Relações Internacionais
(Unesp – Marília)
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Ata e desata
Há 32 anos, em 15 de janeiro de 1978, às 10:00 horas, reunia-se o Colegiado de Diretores do CCM, sob a presidência de Antônio Carlos Franco. Presentes: Maria de Lourdes Morales Horiguella, Benedito André e Paulo Ernesto. Faltas justificadas: Marli Regina de Freitas, Darcy Christianini, Toshi Egashira e da estagiária Cleusa Grauja Merlo. Determinação de tarefas: em 35 mm, dias 15 e 16, “A Divina Criatura”.
Correspondência recebida: lista de filmes em 16 mm da Nadrilon Filmes e Poli Filmes; nota da Tilibra; Sr. Ataliba Teixeira de Castilho; ETP com parte do CCM nos filmes “Escalada ao Poder”, Cr. 270,46; “Jogos de Azar”, Cr. 97,82; “O Pedestre”, Cr. 324,74; “O Jogo com o Fogo”, 357,14; Revista Íris, número 300 de novembro/dezembro de 1977; publicações do Turismo Britânico. Correspondência expedida: Nadrilon Filmes, Ouro Filmes e Empresa Teatral Peduti. Proposta de associados: não houve. Assuntos gerais: era acertada a proposição em 16 mm junto a Nadrilon Filmes, para os filmes de fevereiro e março: dia 01/02, “O Risco de uma Decisão”; 08/02, “Onde os Homens são Homens”; 15/02, “O Magnífico Traído”, 22/02, “A Bela da Tarde”. Em março, dia 01, “Gália”; 08/03, “Ontem, Hoje e Amanhã”; 20/03, “Casanova 70”; 22/03, “Bocaccio 70”. O diretor Paulo Ernesto comunicava que deveriam ser confeccionados novos boletos para a votação do prêmio Curumim. Eram discutidas modificações nas normas que regiam esta premiação. O CCM adquiria os números 49, 50 e 51 da Revista Revue e recebia o número 46 por doação do Sr. Antônio Carlos Franco. O filme “A Herança dos Ferromonti”, com exibição de 2 a 9 de fevereiro, era indicado para a Campanha do Bom Filme. O Sr. José Augusto de Paula era desligado do Colegiado por haver ultrapassado o número de faltas permitidas.
Tino Therezo
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Homenageado do Bimestre
Se você for ao Clube de Cinema em um sábado qualquer, muito provavelmente será surpreendido por um ruído um tanto incômodo, logo após o começo do filme. Apurando mais o ouvido, você se dará conta de que o barulho vem de alguém que come pipoca (e na verdade não passa sem ela). Quem seria? Se você pensou no Pedrinho, então acertou em cheio.
Pois é, isso que hoje em dia parece tão natural (ou nem tanto assim), já foi motivo de uma discussão brava, que eu presenciei aqui no CCM há uns 20 anos, entre o mesmo Pedrinho e alguém ilustre e também muito querido, que muito se incomodou com esse barulho e nunca mais voltou ao CCM.
Seja como for, de Marco (não o Don Juan, do filme com Johnny Depp e Marlon Brando), mas o Pedro mesmo, que é assim que ele se chama, não abriu mão de sua pipoca, muito menos do CCM ou de todas as outras coisas de que tanto gostava e ainda hoje gosta.
Pedro nasceu em Marília, em 03 de março de 1952 (portanto muito, mas muito antes do que eu...) e sempre morou e viveu por aqui. Estudou até o quarto ano primário no grupo Antônio Gomes de Oliveira e começou a trabalhar já com 10 anos de idade, na Papelaria São Luiz, à Avenida Nelson Spielmann esquina com Almirante Barroso.
A seguir, Pedrinho empregou-se na Oficina Marília, à Avenida Sampaio Vidal, perto da antiga Antárctica, tendo como patrão o Sr. Domício Rasmussen. Já como funileiro, profissão que iria assumir pelo resto de sua vida, Pedrinho lá permaneceu por 3 anos, quando com 14 anos de idade foi trabalhar na Oficina Itapuã, cujo dono era o Sr. Francisco Ermínio, um dos ex- diretores do CCM.
Esta oficina, por sinal, ficava perto de minha casa, funcionando junto à Garagem Turma, à Rua Quatro de Abril, entre a Arco Verde e a Campos Sales. Na verdade, a “Turma” era uma empresa transportadora, com caminhõezinhos de três rodas, comandada pelo Sr. Lazinho, pai do nosso querido Heitor Roberto, locutor famoso da Rádio Clube de Marília, “uma das emissoras coligadas” (nunca soube quem eram as outras...).
Eu, em especial, lembro-me das histórias de minha irmã Arlete e de meu primo Zugudu, que passavam trote no pessoal da “Turma”, dando, por telefone, endereços falsos e chamadas inventadas, só para ver os caminhõezinhos passarem, um atrás do outro, naquelas tardes ensolaradas de dias tão calmos, como só uma cidade do interior poderia ter.
Mas, voltando ao Pedrinho: bem, foi justamente na “Turma”, onde trabalhou por mais 10 anos, que o nosso herói conheceu o Sr. Benedito André. Dono de um fusquinha branco e trabalhando no Banco Bandeirantes, perto de lá, Seu Dito sempre aparecia na oficina. Foi numa dessas vezes que, ao conversar com Pedrinho, acabou mencionando o CCM, daí nascendo um convite para conhecer o Clube.
De lá para cá o cinema nunca mais saiu da vida de Pedrinho. Ele, que em sua meninice, vira “Tarzã” (principalmente o primeiro, com John Weissmuller) e “O Homem de Ferro”, nas matinês do Cine Marília, aos domingos pela manhã, agora entrava em um novo mundo, do qual não mais se separaria e por meio do qual faria eternos amigos.
Até para encontrá-los o Cine Marília era referência, pois ao lado dele, na esquina da Rua Campos Sales com a Avenida Sampaio Vidal, ficava o Sr. Antônio, o pipoqueiro mais conhecido da cidade, que também fazia um amendoim salgado como nunca se encontrara igual.
Todo dia, religiosamente, o carrinho de pipocas estava lá, das 16 às 22 horas, tendo em volta os amigos: além do Seu Antônio e de Pedrinho, o Sr. Ezequiel Bambini (gerente do Cine Marília); o meu pai, Seu Catuta, que comandava a “bombonière”; o Geraldo, que trazia numa bicicleta os rolos de filme do Cine São Luiz (assim mesmo, com “z”); o Zé do Cinema, que era o lanterninha...
Pois é, pode parecer estranho para os mais jovens, mas até isso já houve: o lanterninha, sempre “a caráter”, que com um farolete nos conduzia na escuridão do cinema a algum assento vazio; e o carregador de filmes, no caso o Geraldo, que na pressa deixava às vezes cair de sua bicicleta rolos inteiros. Eles vinham numa embalagem de metal, prateada e achatada, como se transportam as pizzas nos dias de hoje, e quando acontecia de caírem ao chão, saíam rolando pela rua, com o Geraldo atrás, resmungando.
Segundo Pedrinho, tanto o Zé do Cinema como o Geraldo chegaram a ir ao CCM (como esse tal vírus do cinema pega!); do Geraldo eu me lembro, pois ele chegava cedo e sempre ocupava uma das poltronas da primeira fila (justamente a que está até hoje quebrada), caindo no sono e roncando nem bem o filme começava.
O Zé do Cinema, depois do fechamento do Cine Marília, trabalhou na Toca Imóveis: eu cheguei a encontrá-lo lá, uma vez ou outra. Mas, confesso que nesses últimos anos nunca mais o vi, nem ao Geraldo. Teriam eles já ido fazer companhia para Elizabeth Taylor, Anselmo Duarte, Humphrey Bogart, Vivian Leigh, Gregory Peck e tantos outros astros e estrelas do cinema? Se sim, eles então estão muito bem acompanhados. Eu pessoalmente só não ia querer ficar perto do Rock Hudson e de alguns outros que tais, mas aí já é uma questão de preferência, né?
Acho que o nosso Pedrinho também prefere as loiras e as morenas (mais essas últimas, senão vai dar briga em casa), ele que é casado com Cláudia Apolinário de Marco, e pai de 3 filhos: Leandro, Pedrinho e Juliana; trabalhando atualmente no “Martelinho de Ouro”, à Avenida Rio Branco, 1472, lá ainda atua como funileiro, lidando também com outras coisas de que muito gosta: além de tecladista nas horas vagas, Pedrinho é restaurador de relógios, especialmente “cucos”.
É esse o Pedro de Marco, um dos atuais diretores do CCM: uma pessoa simples, mas ao mesmo tempo interessado por arte, cultura e principalmente cinema. Se você ainda duvida de sua capacidade artística, vá então conhecer o seu trabalho com relógios ou ainda dê um pulo até sua casa no Natal e confira os enfeites natalinos que ele coloca no jardim! É quase cinematográfico!!!
PS: À propósito, quem perdeu a paciência com o Pedrinho por causa da pipoca foi o ex-professor da Unesp, especialista em Fernando Pessoa, o nosso estimado Décio, casado com minha querida ex-professora de Ciências, Dona Telma. Caro Décio, se você estiver lendo este artigo, atenda a esse meu pedido: releva, vai!! (e volta para o CCM). Afinal, o Pedrinho come pipoca só no começo do filme... (ao contrário de muita gente, que o faz durante toda a sessão!!!??).
(Tino Therezo)
fim.