ASSALTO AO BANCO CENTRAL = O maior roubo a banco do século. Por enquanto.....


Ficha técnica:
Estrelando MILHEM CORTAZ, ERIBERTO LEÃO, HERMILA GUEDES com LIMA DUARTE como Delegado Amorim, TONICO PEREIRA, GERO CAMILO, VINÍCIUS DE OLIVEIRA, HEITOR MARTINEZ, CADU FÁVERO, FABIO LAGO, JULIANO CAZARRÉ, CREO KELLAB

Participação Especial GIULIA GAM, CASSIO GABUS MENDES, ANTONIO ABUJAMRA e MILTON GONÇALVES
Direção de Fotografia JOSÉ ROBERTO ELIEZER, ABC

Produção WALKIRIA BARBOSA e VILMA LUSTOSA
Direção de Arte ALEXANDRE MEYER

Figurino MARÍLIA CARNEIRO e ANTONIO ARAUJO

Preparadora de Elenco FÁTIMA TOLEDO

Trilha Sonora ANDRÉ MORAES

Canções Tema ANDRÉ MORAES e CHRIS PITMAN

Roteiro RENÊ BELMONTE Colaboração LÚCIO MANFREDI
Direção: MARCOS PAULO
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Quem pensa que brasileiro não sabe fazer um bom filme policial está muito enganado.

O Assalto ao Banco Central é muito bom, tem um ritmo legal e não se perde em moralismos extremados (que podia apresentar, devido o tema). Apesar de baseado numa história real, e que história,(!) - tanto o diretor Marcos Paulo, quanto os atores assumem que a obra não tem qualquer compromisso com a realidade dos fatos em si.
“... senão a gente ia ter de denunciar.... esquemas, governos... e essa não era a intenção do filme. A intenção era divertir. (palavras de Milhem Cortaz, que faz o Barão, mentor intelectual do golpe).
Além de audaciosos, os bandidos puderam contar com boa dose de sorte. O túnel cavado por eles, de 78 metros, oferecia obstáculos e armadilhas que souberam driblar, aparentemente sem ocorrência de qualquer acidente de percurso.

O filme é a história “quase verídica” do maior assalto a banco já praticado em nosso país. Desde o fato ocorrido em agosto de 2005, o assalto ao Banco Central era uma dessas histórias parecendo tiradas de um filme. Foi, certamente, um dos assaltos mais bem planejados que já houve. Seus preparativos levaram cerca de três meses e envolveram detalhes logísticos com precisão.
Recordando um pouco: em 08 de agosto de 2005, quando chegaram para trabalhar, funcionários do Bacen de Fortaleza –CE – notaram o roubo do cofre. Num golpe sensacional, foram levados quase R$ 165 milhões de reais em notas de cinqüenta, sem uso da violência e sem disparar um único tiro.
Os críticos mais exigentes não conseguem deixar de destilar seu azedume, acusando os realizadores tupiniquins de terem se baseado em produções anteriores como: ... O plano perfeito, Um dia de cão, Bonnie & Clyde, Uma rajada de balas, Onze homens e um segredo, Fogo contra fogo. Esquecem-se de que este foi o primeiro longa metragem do ator e diretor Marcos Paulo, antes conhecido por dirigir telenovelas. Marcos Paulo tem câncer de esôfago, diagnosticado precocemente no começo deste ano e encontra-se em complicado tratamento.
Particularmente, acredito que os escárnios e acusações se devem à dificuldade de origem que temos, ao lidar com aspectos simbólicos de nossa imagem refletida enquanto brasileiros. Ouso dizer que determinadas falas e abordagens, explicitas no filme, devem ter desagradado sobremodo algumas pessoas. Um exemplo claro é quando Mineiro, emergindo como um tatu, no buraco cavado com tanto sacrifício e precisão declara: _Nessas horas, me dá o maior orgulho de ser brasileiro!! Uma fala antológica! Cínica, verdadeira, provocadora, não hipócrita.

Mineiro (Eriberto Leão) é o Relações Públicas do bando, ou da Gramin, empresa de fachada criada para despistar suspeitas. Ele é bonitão, bom papo e consegue cativar as pessoas, driblando com bom humor e vivacidade qualquer situação inesperada que aconteça. Sua ficha: “Bom de papo; Péssimas intenções; Estelionatário.”

Outro artista que dá show é Tonico Pereira, no papel do intelectual “convicto” de esquerda que acaba por fazer uma “pequena redistribuição de renda” com sua parte no produto do roubo milionário.


Ele é o engenheiro civil responsável pelos aspectos técnicos da escavação. Guerrilheiro marxista-comunista, que ainda sonha com a revolução e acredita, com sua participação no roubo, estar contribuindo com a ‘questão ideológica’ . Assim como os aspectos de engenharia, todos os outros detalhes foram pesquisados milimetricamente, reduzindo ao máximo possibilidades de falhas.

Para se construir o filme foi preciso tanta pesquisa e investigação, que estas acabaram por fazer o caminho contrário, desaguando na elaboração de um livro. O Assalto ao Banco Central, dos escritores Renê Belmonte e J.Monteiro, publicado pela editora AGIR, acompanha o sucesso do filme e atualmente encontra-se na lista dos mais vendidos. No Submarino.com está entre os cinco mais vendidos e na VejaLivros entre os vinte mais vendidos na categoria não-ficção.

De volta ao “Assalto Real”, dos quase R$ 170 milhões, cerca de 1/3 foi recuperado pela polícia. Acredita-se no envolvimento do PCC (1º. Comando da Capital) no golpe, que teria utilizado parte do dinheiro nas rebeliões em presídios e nos confrontos que culminaram nas mortes de diversos policiais em maio de 2006, em SP. A arte imita a vida nesse Assalto ao Banco Central que vale a pena ser visto.

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elisilvéria

Programação setembro - 2011


CLUBE DE CINEMA DE MARÍLIA
Sala “Emílio Pedutti Filho”
Av. Sampaio Vidal, 245 / Sessões: sábados e domingos às 20h15 /
CONTRIBUIÇÃO para não associados: R$ 2,00
E-mail: ccmclubedecinema1952@hotmail.com
blog: CCM-CLUBEDECINEMA.BLOGSPOT.COM

PROGRAMAÇÃO – SETEMBRO/2011

03/09/2011: Sábado O PRIMEIRO QUE DISSE (Mine vaganti) – Direção: Ferzan Ozpetek. Elenco: Riccardo Scamarcio, Elena Sofia Ricci, Alessandro Preziosi, Lunetta Savino. Itália 2010 Drama 110min. Sinopse: Tommaso é o filho mais novo dos Cantones, uma grande família tradicional do Sul italiano, donos de uma fábrica de massas desde 1960. Em uma viagem de regresso de Roma, onde estuda literatura e vive com seu namorado, decide contar a seus pais que é gay. Mas quando ele finalmente está pronto para falar na frente de toda a família, seu irmão mais velho, Antonio, arruina seus planos com uma notícia mais do que inesperada.

04/09/2011: Domingo MUNDO CÃO (Ghost world – aprendendo a viver) – Direção: Terry Zwigoff. Elenco: Thora Birch, Scarlett Johansson, Steve Buscemi, Brad Renfro, Illeana Douglas, Bob Balaban, Stacey Travis. EUA/ Reino Unido/ Alemanha 2001 Drama 119min. Sinopse: Enid (Thora Birch) e Rebecca (Scarlett Johansson) são duas adolescentes recém-saídas do segundo grau que começam a enfrentar as incertezas da existência. Planejam um futuro, cheio de possibilidades, em que serão sempre amigas, mas logo percebem que a realidade da vida adulta é bem diferente do que imaginavam. Rebecca trabalha em um café, recebendo um salário baixo que ela espera que um dia vá ajudá-la a pagar o aluguel de um sonhado apartamento. Enid por sua vez frustra-se em seu curso de artes, no qual é esnobada por uma professora arrogante e por colegas pretensiosos. Mas é nesse ambiente que conhece Josh (Brad Renfro), um rapaz diferente que ela considera "a única pessoa decente no mundo".

10/09/2011: Sábado ALGO QUE VOCÊ PRECISA SABER (Quelque chose à te dire) – Direção: Cécile Telerman. Elenco: Mathilde Seigner, Pascal Elbé, Olivier Marchal, Charlotte Rampling, Patrick Chesnais, Sophie Cattani, Gwendoline Hamon. França 2009 Drama 100min. Sinopse: Mady Celliers (Charlotte Rampling) passa a maior parte do tempo falando mal de suas filhas e de seu marido, Henry (Patrick Chesnais), um ex-chefe de empresa que se transformou após a aposentadoria. Antoine (Pascal Elbé), o irmão mais velho, não consegue obter sucesso com sua empresa. Alice (Mathilde Seigner), a filha do meio, dedica-se à pintura para afastar a depressão. Já Annabelle (Sophie Cattani) é a caçula, trabalhando como enfermeira e tentando prever o futuro de sua família através das cartas. A situação da família Celliers permanece estável até o surgimento de Jacques de Parentis (Olivier Marchal), um policial solitário que acaba com a aparente harmonia.

11/09/2011: Domingo INVERNO DA ALMA (Winter’s bone) – Direção: Debra Granik. Elenco: Jennifer Lawrence, Isaiah Stone, Ashlee Thompson, Valerie Richards, Shelley Waggener, Garret Dillahunt, William White, Ramona Blair. EUA 2010 Drama 100min.
Sinopse: Aos 17 anos de idade Ree Dolly (Jennifer Lawrence) embarca em uma missão para encontrar seu pai depois que ele usa a casa de sua família como forma de garantir sua liberdade condicional e desaparece sem deixar vestígios. Confrontada com a possibilidade de perder a casa onde mora com seus irmãos pequenos e precisar voltar para a floresta de Ozark, Ree desafia os códigos e a lei do silêncio arriscando sua vida para salvar sua família. Ela desafia as mentiras, fugas e ameaças oferecidas por seus parentes e dessa forma começa a juntar a verdade sobre seu pai.

17/09/2011: Sábado A ÚLTIMA ESTAÇÃO (The last station) – Direção: Michael Hoffman. Elenco: Helen Mirren, Christopher Plummer, Paul Giamatti, James McAvoy. Alemanha/ Inglaterra 2009 Drama 112min.
Sinopse: A Condessa Sofia, esposa, companheira, musa e colaboradora de Leon Tolstoi, vê seu mundo virar de pernas para o ar. Em nome da nova religião que criou, o grande romancista russo renunciou ao seu título de nobreza, às suas propriedades e à sua família, em favor da pobreza, do vegetarianismo e do celibato. Sofia sente-se justificadamente ultrajada quando ela descobre que o pupilo de Tolstoi, Vladimir Chertkov, a quem ela detesta, pode ter, secretamente, convencido o marido a mudar o seu testamento. Segundo o documento modificado, os direitos autorais das obras do romancista passariam para o povo russo. Usando o seu poder de sedução, Sofia luta com todas as forças para recuperar aquilo que ela considera seu de direito. Quanto mais radical se torna o comportamento de Sofia, mais fácil se torna para Chertkov convencer Tolstoi que o seu glorioso legado não pode ficar com ela.

18/09/2011: Domingo REVOLUÇÃO EM DAGENHAM (Made in Dagenham) - Direção: Nigel Cole. Elenco: Sally Hawkins, Andrea Riseborough, Jaime Winstone, Lorraine Stanley, Nicola Duffett, Geraldine James, Bob Hoskins, Matthew Aubrey, Daniel Mays. Reino Unido 2010 Comédia 113min. Sinopse: O filme retrata a greve de 1968 nas fábricas da Ford em Dagenham, que interrompeu a produção enquanto as mulheres protestavam contra a discriminação sexual e lutavam por aumentos salariais. Segundo especialistas, foi uma ação decisiva para que o Parlamento britânico aprovasse o Projeto de Paridade Salarial, de 1970. Para Sally Hawkins, uma das protagonistas da trama, trata-se de um tributo à coragem das mulheres dispostas a correr riscos para obter a igualdade entre os sexos no ambiente de trabalho.

24/09/2011: Sábado BRINCANDO DE SEDUZIR (Beautiful girls) - Direção: Ted Demme. Elenco: Matt Dillon, Noah Emmerich, Annabeth Gish, Lauren Holly, Timothy Hutton, Rosie O’Donnell, Max Perlich, Martha Plimpton. EUA 1996 Drama 112min. Sinopse: Pianista com dúvidas quanto a seu relacionamento com bem-sucedida advogada volta à cidade natal para uma reunião. Encontra seus velhos amigos com os mesmos problemas existenciais de outrora e, entre um porre e outro, flerta com a vizinha adolescente e uma bela forasteira.

25/09/2011: Domingo CÓPIA FIEL (Copie conforme) – Direção:.Abbas Kiarostami. Elenco: Juliette Binoche, William Shimell, Jean-Claude Carrière, Agathe Nathanson. França/ Irã/ Itália 2010 Drama 106min. Sinopse: James Miller (William Shimell) é um filósofo inglês que vai a uma pequena cidade da Toscana apresentar seu livro sobre o valor da cópia na arte. Chegando lá, encontra Elle (Juliete Binoche), uma francesa que é dona de uma galeria de arte há muitos anos, que vive com seu filho pré-adolescente. Eles passam a tarde juntos. Ao mesmo tempo em que vão se conhecendo, começam a desenvolver um complexo jogo de interpretação de personagens.

Agradecimentos: À Bimatos Videolocadora (3422-5766) e Canal 10 Videolocadora (3454-9038)

elisilvéria




"O Curumim" - edição 3o. bim.2011 - parte III



INDOCHINA, A LUTA E A TRADIÇÃO DE UM POVO

Indochina, filme de 1992 de Régis Wargnier, tendo como atriz principal Catherine Deneuve (Eliane Devries) e vencedor do Oscar em várias categorias, representa a luta dos vietnamitas pelo domínio de seu país e de sua cultura diante da colonização imposta pela França. A história, passada na década de 1930, conta que Eliane Devries ganha vários hectares de seringais de um casal vietnamita morto em um acidente. Ela fica com a filha do casal, Camille (Linh Dan Pham), e a educa segundo os costumes franceses, tornando-se a moça uma bela jovem. Porém, mãe e filha se apaixonam por um mesmo oficial da Marinha, Jean Baptiste (Vincent Perez). Eliane desiste de seu amor por causa da filha, mas suas vidas não são nada fáceis em um país em constante guerra.
A região da Indochina é assim conhecida por apresentar influências seculares tanto da cultura chinesa quanto da indiana. Tal região, composta pelo Laos, Camboja e Vietnã, foi domínio francês por mais de meio século até a II Grande Guerra.
A industrialização do século XIX implicou a necessidade crescente de matérias-primas estratégicas, como o petróleo e a borracha. Essa última foi encontrada principalmente no sudeste asiático. Nessa conjuntura, a Indochina foi conquistada e submetida ao colonialismo francês, e desde então se iniciou a resistência nacionalista, sendo liderada, na época da I Guerra Mundial, por jovens revolucionários de inspiração comunista e por estudantes que retornavam da França.
A cultura milenar do arroz e dos canais circulares de irrigação, além dos valores budistas fortemente presentes na região, fizeram com que os indochineses sempre almejassem a independência acima de tudo. A luta contra o colonialismo francês despertou a consciência política dos povos indochineses e o budismo deu margem à criação e ao fortalecimento da identidade nacional, e isso pôde ser mais fortemente percebido nos movimentos de resistência do Vietnã.
Além disso, a presença de um dominador europeu carregou consigo os ideais de liberdade e igualdade, apreendido pelos colonizados. Esses ideais e o próprio partido político, instrumento ocidental, foram usados contra os próprios colonizadores. No caso indochinês, vale observar a peculiaridade da formação do movimento guerrilheiro conhecido como Vietminh e liderado por Ho Chi Minh, assim como a criação do Partido Comunista.
O filme também mostra o hábito das pessoas consumirem o ópio, que é extraído da papoula. Mascado ou fumado, espalhou-se pelo Oriente, provocando euforia seguida por sono onírico, porém, seu uso prolongado leva à dependência e produz decadência mental e física.
As filmagens ocorreram em mais de 90 cenários e locações na Malásia, na França e no próprio Vietnã, e os vietnamitas contribuiram com a participação de inúmeros profissionais em toda a ficha técnica do filme. A Baía de Ha Long, decretada patrimônio mundial pela Unesco em 1993, e que significa “onde o dragão entra no oceano”, com cerca de 3.000 ilhotas de calcário que se elevam das águas, é a mais conhecida baía do Vietnã. A beleza dessa baía, cujas ilhas estão em sua maior parte desabitadas e apresentam um número infinito de grutas, praias e cavernas, pode ser vista na cena em que Jean Baptiste e Camille navegam fugindo de seus inimigos.
Outro aspecto cultural explorado no filme é o teatro, em que se combinam dança, mímica, música e declamações em um só espetáculo. No caso de Camille e Jean Baptiste, suas vidas se tornaram lendárias e os espetáculos retratavam seu dramático amor. A tradição literária vietnamita começou com a tradição oral, incluindo lendas, mitos e canções populares, algumas representadas em caracteres chineses, da época do primeiro reino independente vietnamita. Textos de caráter budista e confucionista (do filósofo Confúcio) apresentavam rima e versos que guardavam formas muito rígidas. A música tradicional apresenta influências da China e da Índia, com instrumentos como o violino monocorde e a cítara vietnamita, assim como nas artes plásticas, a cerâmica e os trabalhos em laca apresentam grande reputação.
Indochina retrata um povo sui generis, invadido em sua terra e plenamente convicto de si; sofrido, porém vencedor. Os valores culturais franceses permaneceram dentro das propriedades dos colonizadores e atualmente nem a língua francesa é considerada, e muito embora os mais velhos ainda a falem, ela já foi superada pelo inglês como segunda língua.
Depois da França, os EUA tentaram dominar a Indochina, o que culminou com a conhecida Guerra do Vietnã. O que para os estadunidenses representava o anticomunismo, para os indochineses era a luta secular por sua independência e fim da dominação estrangeira. Embora os EUA tenham perdido esta guerra, deixaram atrás de si um rastro de destruição e milhares de minas que até hoje estão na iminência de explodirem.
Indochina, a luta de um povo com sua própria tradição, cultura e história, que vive dentro de limites bem definidos, lutando durante séculos pelo direito de viver a sua própria vida.

Mônica Monteiro Garavello = Tradutora e graduanda de Relações Internacionais
(Unesp – Marília)
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Ata e desata

Há 32 anos, em 15 de janeiro de 1978, às 10:00 horas, reunia-se o Colegiado de Diretores do CCM, sob a presidência de Antônio Carlos Franco. Presentes: Maria de Lourdes Morales Horiguella, Benedito André e Paulo Ernesto. Faltas justificadas: Marli Regina de Freitas, Darcy Christianini, Toshi Egashira e da estagiária Cleusa Grauja Merlo. Determinação de tarefas: em 35 mm, dias 15 e 16, “A Divina Criatura”.
Correspondência recebida: lista de filmes em 16 mm da Nadrilon Filmes e Poli Filmes; nota da Tilibra; Sr. Ataliba Teixeira de Castilho; ETP com parte do CCM nos filmes “Escalada ao Poder”, Cr. 270,46; “Jogos de Azar”, Cr. 97,82; “O Pedestre”, Cr. 324,74; “O Jogo com o Fogo”, 357,14; Revista Íris, número 300 de novembro/dezembro de 1977; publicações do Turismo Britânico. Correspondência expedida: Nadrilon Filmes, Ouro Filmes e Empresa Teatral Peduti. Proposta de associados: não houve. Assuntos gerais: era acertada a proposição em 16 mm junto a Nadrilon Filmes, para os filmes de fevereiro e março: dia 01/02, “O Risco de uma Decisão”; 08/02, “Onde os Homens são Homens”; 15/02, “O Magnífico Traído”, 22/02, “A Bela da Tarde”. Em março, dia 01, “Gália”; 08/03, “Ontem, Hoje e Amanhã”; 20/03, “Casanova 70”; 22/03, “Bocaccio 70”. O diretor Paulo Ernesto comunicava que deveriam ser confeccionados novos boletos para a votação do prêmio Curumim. Eram discutidas modificações nas normas que regiam esta premiação. O CCM adquiria os números 49, 50 e 51 da Revista Revue e recebia o número 46 por doação do Sr. Antônio Carlos Franco. O filme “A Herança dos Ferromonti”, com exibição de 2 a 9 de fevereiro, era indicado para a Campanha do Bom Filme. O Sr. José Augusto de Paula era desligado do Colegiado por haver ultrapassado o número de faltas permitidas.

Tino Therezo
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Homenageado do Bimestre

Se você for ao Clube de Cinema em um sábado qualquer, muito provavelmente será surpreendido por um ruído um tanto incômodo, logo após o começo do filme. Apurando mais o ouvido, você se dará conta de que o barulho vem de alguém que come pipoca (e na verdade não passa sem ela). Quem seria? Se você pensou no Pedrinho, então acertou em cheio.
Pois é, isso que hoje em dia parece tão natural (ou nem tanto assim), já foi motivo de uma discussão brava, que eu presenciei aqui no CCM há uns 20 anos, entre o mesmo Pedrinho e alguém ilustre e também muito querido, que muito se incomodou com esse barulho e nunca mais voltou ao CCM.
Seja como for, de Marco (não o Don Juan, do filme com Johnny Depp e Marlon Brando), mas o Pedro mesmo, que é assim que ele se chama, não abriu mão de sua pipoca, muito menos do CCM ou de todas as outras coisas de que tanto gostava e ainda hoje gosta.
Pedro nasceu em Marília, em 03 de março de 1952 (portanto muito, mas muito antes do que eu...) e sempre morou e viveu por aqui. Estudou até o quarto ano primário no grupo Antônio Gomes de Oliveira e começou a trabalhar já com 10 anos de idade, na Papelaria São Luiz, à Avenida Nelson Spielmann esquina com Almirante Barroso.
A seguir, Pedrinho empregou-se na Oficina Marília, à Avenida Sampaio Vidal, perto da antiga Antárctica, tendo como patrão o Sr. Domício Rasmussen. Já como funileiro, profissão que iria assumir pelo resto de sua vida, Pedrinho lá permaneceu por 3 anos, quando com 14 anos de idade foi trabalhar na Oficina Itapuã, cujo dono era o Sr. Francisco Ermínio, um dos ex- diretores do CCM.
Esta oficina, por sinal, ficava perto de minha casa, funcionando junto à Garagem Turma, à Rua Quatro de Abril, entre a Arco Verde e a Campos Sales. Na verdade, a “Turma” era uma empresa transportadora, com caminhõezinhos de três rodas, comandada pelo Sr. Lazinho, pai do nosso querido Heitor Roberto, locutor famoso da Rádio Clube de Marília, “uma das emissoras coligadas” (nunca soube quem eram as outras...).
Eu, em especial, lembro-me das histórias de minha irmã Arlete e de meu primo Zugudu, que passavam trote no pessoal da “Turma”, dando, por telefone, endereços falsos e chamadas inventadas, só para ver os caminhõezinhos passarem, um atrás do outro, naquelas tardes ensolaradas de dias tão calmos, como só uma cidade do interior poderia ter.
Mas, voltando ao Pedrinho: bem, foi justamente na “Turma”, onde trabalhou por mais 10 anos, que o nosso herói conheceu o Sr. Benedito André. Dono de um fusquinha branco e trabalhando no Banco Bandeirantes, perto de lá, Seu Dito sempre aparecia na oficina. Foi numa dessas vezes que, ao conversar com Pedrinho, acabou mencionando o CCM, daí nascendo um convite para conhecer o Clube.


De lá para cá o cinema nunca mais saiu da vida de Pedrinho. Ele, que em sua meninice, vira “Tarzã” (principalmente o primeiro, com John Weissmuller) e “O Homem de Ferro”, nas matinês do Cine Marília, aos domingos pela manhã, agora entrava em um novo mundo, do qual não mais se separaria e por meio do qual faria eternos amigos.
Até para encontrá-los o Cine Marília era referência, pois ao lado dele, na esquina da Rua Campos Sales com a Avenida Sampaio Vidal, ficava o Sr. Antônio, o pipoqueiro mais conhecido da cidade, que também fazia um amendoim salgado como nunca se encontrara igual.
Todo dia, religiosamente, o carrinho de pipocas estava lá, das 16 às 22 horas, tendo em volta os amigos: além do Seu Antônio e de Pedrinho, o Sr. Ezequiel Bambini (gerente do Cine Marília); o meu pai, Seu Catuta, que comandava a “bombonière”; o Geraldo, que trazia numa bicicleta os rolos de filme do Cine São Luiz (assim mesmo, com “z”); o Zé do Cinema, que era o lanterninha...
Pois é, pode parecer estranho para os mais jovens, mas até isso já houve: o lanterninha, sempre “a caráter”, que com um farolete nos conduzia na escuridão do cinema a algum assento vazio; e o carregador de filmes, no caso o Geraldo, que na pressa deixava às vezes cair de sua bicicleta rolos inteiros. Eles vinham numa embalagem de metal, prateada e achatada, como se transportam as pizzas nos dias de hoje, e quando acontecia de caírem ao chão, saíam rolando pela rua, com o Geraldo atrás, resmungando.
Segundo Pedrinho, tanto o Zé do Cinema como o Geraldo chegaram a ir ao CCM (como esse tal vírus do cinema pega!); do Geraldo eu me lembro, pois ele chegava cedo e sempre ocupava uma das poltronas da primeira fila (justamente a que está até hoje quebrada), caindo no sono e roncando nem bem o filme começava.
O Zé do Cinema, depois do fechamento do Cine Marília, trabalhou na Toca Imóveis: eu cheguei a encontrá-lo lá, uma vez ou outra. Mas, confesso que nesses últimos anos nunca mais o vi, nem ao Geraldo. Teriam eles já ido fazer companhia para Elizabeth Taylor, Anselmo Duarte, Humphrey Bogart, Vivian Leigh, Gregory Peck e tantos outros astros e estrelas do cinema? Se sim, eles então estão muito bem acompanhados. Eu pessoalmente só não ia querer ficar perto do Rock Hudson e de alguns outros que tais, mas aí já é uma questão de preferência, né?
Acho que o nosso Pedrinho também prefere as loiras e as morenas (mais essas últimas, senão vai dar briga em casa), ele que é casado com Cláudia Apolinário de Marco, e pai de 3 filhos: Leandro, Pedrinho e Juliana; trabalhando atualmente no “Martelinho de Ouro”, à Avenida Rio Branco, 1472, lá ainda atua como funileiro, lidando também com outras coisas de que muito gosta: além de tecladista nas horas vagas, Pedrinho é restaurador de relógios, especialmente “cucos”.
É esse o Pedro de Marco, um dos atuais diretores do CCM: uma pessoa simples, mas ao mesmo tempo interessado por arte, cultura e principalmente cinema. Se você ainda duvida de sua capacidade artística, vá então conhecer o seu trabalho com relógios ou ainda dê um pulo até sua casa no Natal e confira os enfeites natalinos que ele coloca no jardim! É quase cinematográfico!!!
PS: À propósito, quem perdeu a paciência com o Pedrinho por causa da pipoca foi o ex-professor da Unesp, especialista em Fernando Pessoa, o nosso estimado Décio, casado com minha querida ex-professora de Ciências, Dona Telma. Caro Décio, se você estiver lendo este artigo, atenda a esse meu pedido: releva, vai!! (e volta para o CCM). Afinal, o Pedrinho come pipoca só no começo do filme... (ao contrário de muita gente, que o faz durante toda a sessão!!!??).
(Tino Therezo)

fim.








"O Curumim" - edição 3o. bim.2011 - parte II



Liz Taylor: uma atriz que viverá para sempre

Em abril apresentamos alguns filmes de Elizabeth Taylor, em homenagem à atriz, morta de complicações cardíacas, após uma vida repleta de realizações cinematográficas.
Entre estes filmes, chamaram atenção “Gata em Teto de Zinco Quente” e “Um Lugar ao Sol”. No primeiro, tem-se a história de um poderoso chefe de família, Big Dad, maravilhosamente estrelado por Burt Ives, que está à beira da morte, corroído por um câncer. De olho em sua fortuna, estão sua avarenta nora, Judith Anderson e seu obediente primogênito Jack Carson, que usam até os filhos, manipulados e mal educados, para conquistar as graças do avô rabugento, que não se deixa subornar pelo agrado de ninguém. Numa alusão ao filho pródigo, ele prefere o seu caçula, Paul Newman, no papel de Brick, um alcoólatra e ex-jogador, frustrado pela morte de seu amigo, Striker, supostamente vitimado por causa de Maggie (Elizabeth Taylor), esposa de Brick, que teria seduzido Striker antes dele se atirar pela janela do quarto onde estavam. Independentemente do enredo, o que se vê na tela é um desfile das paixões humanas, surpreendentemente colocadas uma após outra, numa seqüência diabólica que dura somente um dia. Apesar de ser nomeada apenas uma dessas paixões – falsidade, alardeada a todo instante pelo revoltado chefe do clã, estão também lá presentes: a avareza (de Judith e Carson), o desprezo (de Brick por Maggie), a cupidez (de Maggie por Brick), a indiferença (de Big Dad pela esposa), a frustração (de Brick pelo amigo morto), o amor (paterno, filial e fraterno), o carinho (de Maggie por Brick), a inveja (da cunhada por Maggie), a intolerância (de Brick por Maggie). Com tudo isto passando ante nossos olhos – e em tão pouco tempo, poderíamos ficar horrorizados; mas a sequência é tão sutilmente encadeada, que ao final sentimo-nos recompensados e gratos por termos presenciado essa catarse. E por quê? Porque percebemos que todas estas paixões são parte da natureza humana e nela(s) nos reconhecemos: o que nos traz prazer é sabermo-nos parte da comunidade dos homens, que se miram uns aos outros na busca de semelhanças e diferenças. Porém, o que é mais espetacular no filme é que, apesar do sofrimento trazido pelas paixões, no fim as coisas parecem caminhar subitamente para melhor. E, de novo, por quê? Porque, à maneira da psicanálise, todos os sentimentos foram tornados conscientes durante o filme; foi possível assim “saboreá-los” e sabê-los (do latim sapore = saber). Pois não é proibido ao homem ser afetado por essas paixões. Ao contrário, é próprio dele senti-las, já que fazem parte da natureza humana. Mas o grande golpe de nossa inteligência sobre elas é justamente este: conhecê-las, sabê-las no nosso interior para que só assim possamos controlá-las, aceitá-las e compreendê-las, entendendo melhor a nós mesmos e a nossos semelhantes.

O outro filme que causou comoção foi “Um Lugar ao Sol”. Aqui, Montgomery Clift está mais esplendoroso que a própria Elizabeth Taylor. Ele vive o papel de George Eastman, um jovem humilde que, querendo subir na vida, vai trabalhar na fábrica do tio rico. Lá, Monti se enamora de uma pobre e ingênua operária, Alice (Shelley Winters), sua companheira na linha de montagem. Acontece que, durante uma festa dada pelo tio, Monti acaba conhecendo Angela Vickers (Elizabeth Taylor), em quem vê uma oportunidade de seguir uma vida mais cômoda e talvez feliz. Por isso, George tenta agora se desvencilhar da pobre Alice que, a esta altura, já grávida, vai lutar pela realização de seu casamento com ele. Para resolver o caso da forma mais definitiva possível, Monti acaba provocando a morte da pobre Alice, que se afoga num acidente (ou assassinato?) num lago, durante um passeio de barco. Esta história se assemelha à de Woody Allen no filme “Match Point” (Ponto Final), em que também ocorre a morte de Scarlett Johanson por força das circunstâncias provocadas pelo noivo, outro alpinista social. Nos dois filmes, mas principalmente no mais antigo, prepondera o planejamento frio e calculista da morte e, depois, o arrependimento. De novo, vemo-nos diante da mente humana e do que ela é capaz: em Monti, percorremos os caminhos sombrios e gélidos de sua inteligência cruel e racional. É fascinante adivinhar, por sua expressão facial, pelo seu olhar distante e pelo seu jeito dissimulado, o que vai de horroroso em seu pensamento diabólico. Percebe-se até mesmo o momento em que Monti tem a ideia de cometer o crime: ao mesmo tempo em que escuta a notícia de um acidente, ele movimenta os olhos, a luz brilha em suas pupilas e ele desvia o olhar – é simplesmente extraordinário!!

Mas, o mais surpreendente é que, após o crime-acidente, ele mesmo, Monti, não sabe se foi ou não culpado pela morte da namorada. Que caminhos ele tem de percorrer para buscar no fundo de sua mente a resposta para isso!! O fato de ter desejado a morte de Alice e de tê-la planejado até quase as últimas conseqüências, faz dele um assassino, ou não? Mesmo depois da virada do barco, já com Alice se afundando na água, ele poderia tê-la salvo ou pelo menos ter-se esforçado para isso? Bem, no fim do filme, Monti vai precisar de um pastor protestante para ajudá-lo a encontrar a resposta. Ao cabo, a morte na cadeira elétrica será menos dolorosa que a própria dúvida sobre sua culpa. Afinal, é ele culpado ou não? É isso o que ele mais gostaria de saber!! A culpa, sim, é outra paixão que pode nos estragar a vida. Sobre ela, muito bem discorreu Dostoievski ao escrever “Crime e Castigo”. No livro, um jovem estudante acaba cometendo um assassinato e, por causa da culpa, torna-se incapaz de continuar sua vida: é o seu castigo.
Eis aí o que estes filmes nos trouxeram (pelo menos na minha análise): um pouco mais de conhecimento sobre nós mesmos, aliado à oportunidade de vermos nossa natureza, a humana, projetada na tela, em um espetáculo de luz, formas e som. Tudo isso (“e o céu também” – nome de um livro e de um filme) – tivemos a ocasião de discutir em nossas sessões do CCM, num ambiente agradável e de muitos amigos. Venha você também!
(por Tino Therezo)

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Frases cinematográficas 3

“Você está falando comigo? Está falando comigo?” (Robert de Niro para sua imagem no espelho, em Taxi Driver, 1976).

“Eu não tenho certeza de que ela seja capaz de qualquer sentimento verdadeiro. Ela é da geração televisão. Ela aprendeu sobre a vida com o Pernalonga” (William Holden sobre sua amante Faye Dunaway, em Rede de Intrigas, 1976).

“Foi a maior diversão que eu já tive sem rir” (Woody Allen depois da primeira vez com Diane Keaton, em Noivo Nervoso, Noiva Neurótica, 1977).

“Que a força esteja com você” (Alec Guiness, em Guerra nas Estrelas, 1977).

“Eu vou voltar” (Arnold Schwarzenegger, em o Exterminador do Futuro, 1984).

“Ei, Stella... Ei, Stella!” (Marlon Brando chama Kim Hunter, em Uma Rua Chamada Pecado, 1951. A chave da cena está na reação quase orgásmica de Hunter quando ouve a voz dele).

"Eu sempre dependi da bondade de estranhos” (Vivian Leigh aceita o braço de Richard Garrick, que a conduz para o hospício, em Uma Rua Chamada Pecado, 1951).

Referência: “Cinema Falado”, de Renzo Mora, Lemos Editorial, 1999.

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“O Curumim” – edição 3º. Bim.2011 – parte I

Notícias do Mundo do Cinema

Lançados em DVD:

a) “Um Caminho para Dois”, com Audrey Hepburn e Albert Finney. O diretor, Stanley Donen, é mais lembrado pela sua direção de “Cantando na Chuva”. Escrito pelo roteirista Frederic Raphael (o mesmo de “De Olhos Bem Fechados”), este drama conjugal é um de seus filmes mais refinados. O par em questão, Joanna (Audrey Hepburn) e Mark Wallace (Albert Finney) é um dos muitos casais insatisfeitos que rondam a Europa em busca de alternativas. Realizado em 1967, “Um Caminho para Dois”, pela sua modernidade, resistiu bem ao tempo. Fotografado em cinemascope e no sul da França, é lá que Albert Finney diz à mulher que gostaria de fotografar objetos de forma tridimensional, ao que Audrey responde: “Eu sou tridimensional, por falar nisso” (Estadão, DVD/TV, p.13, de 5 a 11/o6/2011).

b) “Alma em Suplício”, com Joan Crawford, sob direção de Michael Curtiz (1945). Por este filme, Crawford ganhou o Oscar de melhor atriz, fazendo o papel de Mildred Pierce. Casada com um homem que a abandona com as duas filhas, ela é obrigada a lutar pela sua sobrevivência, tropeçando nas próprias pernas à medida que tenta subir na vida a qualquer preço (O Estadão, D11, 29/05/2011).

c)“A Longa Noite de Loucuras”, de 1959, com roteiro de Pier Paolo Pasolini, é um filme que dialoga com “Um Dia de Enlouquecer” e “O Belo Antônio”. Os três filmes têm em comum a juventude dos personagens e a importância do dinheiro, pelo qual as prostitutas e os gigolôs tudo fazem. Em 1959, boa parte do interesse de “A Longa Noite” vinha do elenco, que reunia os novos talentos da Itália e da França: Elsa Martinelli, Antonella Lualdi e Laurent Terzieff (O Estadão, D3, 01/06/2011).

Aberta:

Mostra “Odete Lara, Atriz de Cinema”, que o CCBB apresentou a partir de 01 de junho, relembrando o trabalho desta mulher extraordinária, com participação em vários filmes entre 1956 e 1985, entre eles: “Noite vazia” (1964), de Walter Hugo Khouri, e “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” (1969), de Glauber Rocha. Paulistana da Bela Vista, nascida em 1929, Odete era uma deusa, que se expandia mesmo em pequenos papéis. Ela está inesquecível em “Boca de Ouro”, numa cena em que, num vestido de bolinhas, dá o testemunho de sua relação com o bicheiro (vivido por) Jece Valadão (O Estadão, D10, 31/05/2011).

Morre:

a) Peter Falk, aos 83 anos. Conhecido pelo seu papel na série “Columbo”, o ator faleceu em sua casa em Beverly Hills, com doença de Alzheimer, deixando mulher e duas filhas. Por seu trabalho na série policial, que estreou em 1971 e foi interrompida em 1978, Falk ganhou quatro prêmios Emmy. Nascido em Nova York e filho de um comerciante, o ator teve seu olho direito retirado aos três anos, por causa de um tumor, e substituído por uma prótese de vidro. Fez também “Deu a Louca no Mundo” (1963) e “A Corrida do Século” (1965); em “Columbo”, ele sempre dizia, quando já estava para sair da casa do investigado: “Just One More Thing” (Só mais uma coisa...) quando então o crime se esclarecia (O Estadão, A16, 25/06/2011).

b) Wilza Carla, aos 75 anos, morta em São Paulo, de diabete e problemas cardíacos. Sua filha, Paola, que há onze anos morava com Wilza para cuidar dela, disse que a mãe ainda sonhava voltar à televisão. Ela ficou famosa com a personagem “Dona Redonda”, da novela Saramandaia, da TV Globo, e também por seus papéis sensuais em chanchadas. Nascida em Niterói, em 19 de outubro de 1935, Wilza fez “Chico Viola Não Morreu” (1955), “Palmeiras Negras” (1967), “Os Monstros de Babalao” (1970) (O Estadão, D9, 22/06/2011).

Visitou:

o Brasil, em maio de 2011, Catherine Deneuve, a “bela da tarde” que o tempo respeitou, apesar dos anos. Ela, porém não é mais a loira delgada que cantava e dançava com a irmã, em “Duas Garotas Românticas”, de Jacques Demy. Mas ainda brilha no novo “Os Bem-Amados”, de Christophe Honoré, que encerrou o Festival de Cannes no domingo passado (o Estadão, D3, 29/05/2011). Tino Therezo

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Brincando de seduzir

Sabe quando você assiste um filme — de preferência, que não seja uma megaprodução — e, quando ele termina, bate uma saudade imensa do que acabou de ver? Como se quisesse que jamais terminasse. É disso que estou falando. Cada pessoa tem seus filmes preferidos, e Brincando de seduzir (Beautiful girls) é o meu, em posição de destaque na estante. Você terá que ir a uma boa locadora para encontrar essa comediazinha romântica dramática lançada em 1996. Aliás, uma locadora que ainda tenha VHS, pois ainda não saiu em DVD no Brasil. Vá, porque vale a pena. Brincando de seduzir tem um roteiro ultrassimples e batido. Conta a história de alguns amigos que se encontram no aniversário de formatura da turma, coisa típica de norte-americano. A grande sacada é que o filme não trata da festa, e sim dos “losers” em que se tornaram esses personagens.O início é de uma poesia cortante. Willie, o protagonista, interpretado magistralmente por Timothy Hutton, junta as gorjetas de sua noite como pianista. Despede-se do dono do bar e caminha entre o gelo e a neve do inverno em direção à rodoviária, a caminho de sua casa e de seu passado. Ele está em dúvida, repensando os passos, sua história. Apostou seus sonhos em algo que não conseguiu realizar. A volta para casa é, também, uma volta ao início de sua trajetória, uma análise de “onde eu errei?” e “o que faço agora?”.Tal retorno tem um quê de traumático, afinal só quem viveu em uma cidade pequena sabe: nada muda. Seus amigos, tão losers quanto ele, continuam os mesmos, para o bem e para o mal. Tommy (Matt Dillon) é um limpador de gelo e continua dividido entre duas garotas (Sharon e Daryan – respectivamente Mira Sorvino e Darian Smalls). Paul, em uma excelente interpretação de Michael Rapaport, continua um moleque com zilhões de pôsteres de mulheres nuas nas paredes do quarto. E Mo (Noah Emmerich) está casado. Todos eles beirando os 30 anos. Todos eles losers de carteirinha. Mas, o filme não é sobre homens. É sobre garotas, belas garotas (como sugere o título original). E como essas belas garotas influenciam a vida dos nossos pobres amigos. Willie volta para casa com uma dúvida cruel: casar ou não casar? Seis meses de namoro com uma advogada e lá está ele, na encruzilhada, sem nem sequer saber sobre si mesmo. Marty (Natalie Portman – perfeita no papel), como uma Lolita de Nabokov, ou uma Joey de Kevin Willianson, sempre com a palavra certa na hora certa, é uma bela garota. Uma bela garota de… 13 anos. Só os diálogos de Willie e Marty já valem o filme. Gina (Rosie O’Donnell) é outra suposta bela garota. Seu “solo” no supermercado explicando que homens sonham com modelos (irreais), mas casam com as normais (reais), consiste em outro grande momento. E Andera (Uma Thurman), bem, é publicitária e renova a improvável equação “garota bonita e inteligente”. Frases como “tudo que eu preciso é de um cara que me chame de docinho na hora de dormir” ou “tudo que eu preciso à noite é de um dry martini e Van Morrison” ficam ressoando na cabeça durante dias. A trilha sonora é excelente e centrada basicamente em standards americanos. Coisas como Me and Mrs. Jones, de Billy Paul, ou Sweet Caroline, de Neil Diamond, que rendem outros dos grandes momentos do filme. Traz também belas canções perdidas no tempo, como Graduation day, do cavaleiro solitário Chris Isaak, I’ll miss you, do Ween, e uma dobradinha sensacional dos Afghan Whigs, fazendo covers de duas canções — uma delas de Barry White —, com direito a ponta em um pub tocando Be for real, para embalar a dança de Andera e Paul. No geral, Brincando de seduzir é cinema sem pretensão, com o intuito único de mostrar as dificuldades da passagem tardia para a vida adulta. Consegue bem isso. Consegue divertir e fazer pensar. Afinal, onde eu errei? O que faço agora? Sedução é brincadeira? O que é real? O que você imagina ou imaginava estar fazendo aos 30 anos? Isso é cinema.

Direção: Ted Demme. 1996. 113 min.

Rodrigo Gerdulli (tradutor e revisor)

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