BESOURO, o filme
Elenco: Aílton Carmo, Anderson Santos de Jesus, Jessica Barbosa, Flavio Rocha, Irandhir Santos, Macalé, Leno Sacramento, Chris Vianna, Sérgio Laurentino, Adriana Alves, Miguel Lunardi.
Direção: João Daniel Tikhomiroff
Gênero: Ação
Duração: 120 min.
Distribuidora: Disney
Estreia: 30 de Outubro de 2009
A Capoeira no Brasil vai bem, obrigado. Depois de filmes “fortes”, de ambientação urbana como Cidade de Deus, Carandiru, Salve Geral, dentre outros, é um encanto poder desfrutar de ares que fogem da Estética da violência. Embora a obra retrate um universo de lutas, paixões e disputa, sua abordagem não é a da violência explícita e gratuita. O filme tem algo mais.
Besouro, o filme, - conta a origem da capoeira, essa modalidade de luta/jogo/arte/dança, criada pelos negros brasileiros antes da Abolição (1888) para se defender de ataques e da violência.
A história se inicia em 1924 quando os negros, embora tecnicamente livres desde 1888, continuavam na prática a enfrentar condições desumanas de trabalho nas fazendas, em situações análogas à escravidão. Neste cenário a capoeira é praticada pelos escravos como forma de elevar o moral, transmitir a sua cultura e principalmente, resistir aos seus escravizadores. Para muitos, capoeira é sinônimo de liberdade.
Ela se organiza em duas modalidades principais: a Capoeira Angola e a Regional. A diferença entre elas é que a Angola é mais antiga e um pouco mais lenta. De movimentos furtivos e cadenciados, pode induzir o observador a pensar ser ela menos perigosa e mortal que sua congênere, a Capoeira Regional, porém isso não é verdade.
Esse filme brasileiro inaugura uma nova abordagem temática e pode ser o início de uma era de prosperidade para nossa indústria cultural, pela adesão de plateias cansadas da mesmice. Não é comédia, não retrata a vida na favela, nem tem atores consagrados da Tv. Pelo contrário, trabalha com astros desconhecidos e o ator principal (Aílton Carmo) nem é ator profissional, mas um capoeirista de Salvador. Até mesmo o diretor - João Daniel Tikhomiroff – pode-se dizer um novato. Mais envolvido até agora com peças de publicidade, (João Daniel, o brasileiro mais premiado no Festival de Publicidade de Cannes), encarou o desafio de frente e realizou, em seu primeiro longa-metragem, uma das mais ambiciosas produções nacionais, orçado em 10 milhões de reais. Besouro é um dos vídeos mais baixados do Youtube em menos de um ano de lançamento.
O filme Besouro - da capoeira nasce um herói - é muito bom e a equipe técnica cumpriu com folga aquilo que pretendia ao divulgar a história mais que conhecida nas rodas, de Besouro Mangangá – o maior capoeirista de todos os tempos. Foi bom o lance de contratar o especialista chinês em coreografias especiais Huen Chiu Ku, que faz Besouro literalmente voar, trazendo um quê de modernidade a uma história tradicional da cultura brasileira. Ousadia do jovem diretor, cujo filme desde a estréia tem lhe rendido prestígio e reconhecimento. A grande sacada de João Daniel foi buscar um enredo que aborda a capoeira, arte intrínseca da cultura nacional, hoje difundida em todo o mundo: “Quis fazer o melhor filme de capoeira possível”, explica Tikhomiroff em uma conversa com a imprensa.
Como anuncia a voz em Off nos créditos finais, no começo a Capoeira era proibida, depois, no governo Getúlio Vargas (1930), passa a ser tolerada e institucionalizada para, finalmente, em 2008, ser elevada à condição de Patrimônio Cultural Brasileiro, respeitada e praticada nos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Suíça, Japão, Inglaterra, Portugal, Espanha, Israel, Itália, França, etc, etc.
‘A iniciativa de tombamento faz as coisas não desaparecerem’, diz Naná Vasconcelos sobre o título dado pelo Iphan, quando era ministro da cultura o músico Gilberto Gil e depois de cerca de 300 anos de história (da capoeira) no Brasil. Ao lado da capoeira, também o Samba de Roda do Recôncavo Baiano figura desde 2004 como patrimônio cultural imaterial brasileiro , tendo sido no ano seguinte,inscrito na lista das Obras-Primas do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, pelo Comitê da Unesco, que considera patrimônio imaterial um repositório da diversidade cultural essencial para a identidade dos povos e das comunidades.
Falando em Naná Vasconcelos, a trilha sonora do filme é uma obra à parte e merece destaque. Trabalho conjunto de Rica Amabis e Nação Zumbi, com participação de Gilberto Gil e Naná Vasconcelos –um dos maiores percussionistas do mundo. Naná introduz o aspecto mágico usando elementos essenciais, simples como a sua própria voz, principalmente nas cenas em que o herói aparece. A trilha sonora de Besouro é absolutamente impecável.
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elisilveria
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