Aos membros do CCM e amantes do cinema, uma grande perda
Saiu no jornal "O Estado de São Paulo" nota sobre o falecimento de Emilio Pedutti Filho, dia 21 deste mês (setembro/2010), em Botucatu, aos 78 anos de idade. Além de ter uma rede de cinemas levando cultura por todo o interior do Estado, o Sr Pedutti sempre colaborou com o CCM, deixando, já no projeto do antigo Cine Pedutti, na Rua 4 de Abril, salas superiores destinadas ao nosso cineclube. Foi lá que funcionou durante muito tempo o CCM, sob a direção de Benedito André e Roberto Cimino. Como parte das comemorações pelo aniversário do nosso Clube, vamos recolocar, na sala de projeção, a placa que dava nome a ela: "Sala Emílio Pedutti Filho". Para isso contactamos a família Pedutti em Botucatu para que mande um representante, que teremos muita honra em receber e homenagear.
Abraços
Dr. Altino Therezo
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Sr. Pedutti foi um homem de bem. Era empresário (foi dono da Empresa Teatral Peduti, atuante no segmento cinematográfico na época áurea do cinema, com salas de exibição em todo o interior de SP, MT e MS). Era agropecuarista. Foi vice-presidente do BANESPA - Banco do Estado de São Paulo, na década de 70, por duas gestões. Emílio Pedutti Filho foi ex-dirigente da Associação Paulista de Municípios, pré candidato a vice-governador, ao lado de Laudo Natel, no final dos anos 1960, porém desistiu antes de registrar a candidatura. Naquela época eram os deputados estaduais que elegiam os governadores. A representação política era limitada a apenas dois partidos permitidos pelos governantes militares: MDB - Movimento Democrático Brasileiro, de oposição e Arena - Aliança Renovadora Nacional, governista. Os deputados votavam e o governo central entronava no período de regência.
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Empreendedor, nos anos 1970 e 1980, quando as indústrias dos clãs familiares italianos e outras começaram a sentir o peso da inflação, logrou, usando o prestígio conquistado junto ao Banespa, atrair a Botucatu indústrias como a Staroup, a fábrica de ônibus Caio, a extinta Usina Costa Pinto que fazia produtos da marca Peixe, entre outras.
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A história de Martinópolis exemplifica os fatos ocorridos em outras cidades com relação à história do cinema. Naquela localidade o primeiro cinema nasceu em fins da década de 30 com 380 lugares. Em 1958 a Empresa Teatral Pedutti, do dr. Emílio arrendou este cinema, nele realizando uma série de melhorias nas poltronas, no som e com instalação de tela cinemascope. Daí o cinema passou a chamar-se Cine São Benedito e durou até maio de 1978. No local, os frequentadores costumavam assistir comédias e aventuras. Os ídolos da época eram José Vasconcelos, Mazzaropi, Teixeirinha e Meire Terezinha, Grande Otelo, os astros da Jovem Guarda por causa de seus filmes, e, por último, nos anos 70, a pornochanchada, cujas estrelas eram Vera Fischer, Aldine Müller, Marlene França, Adriana Prieto, Darlene Glória, Sandra Barsotti, Dercy Gonçalves, e entre os galãs, David Cardoso e John Herbert. www.camarapprudente.sp.gov.br/historia/hist_oeste/cidades/martinopolis/lazer.html
Era uma pessoa simples, de fácil trato, respeitado por todos, inclusive adversários políticos que ganhou quando disputou eleições para prefeito, em 1988, saindo do pleito com 20% dos votos. Vide: doentrelinhas.blogspot.com
Morava em uma de suas fazendas em Botucatu. A cidade decretou luto oficial de três dias pelo falecimento. A cultura lhe será eternamente grata.
(elisilvéria)
Bagdad Café = filme de 1987, dirigido por Percy Adlon; coprodução : Alemanha Ocidental/EUA. Elenco:
• Marianne Sägebrecht — Jasmin
• CCH Pounder — Brenda
• Jack Palance — Rudi Coxx
• Christine Kaufmann — Debby
• Monica Calhoun — Phyllis
• Darron Flagg — Salomo
• George Aguilar — Cahuenga
• G. Smokey Campbell — Sal
• Hans Stadlbauer — Muenchgstettner
• Alan S. Craig — Eric
• Apesanahkwat — Xerife Arnie
• Ronald Lee Jarvis — Caminhoneiro Ron
• Mark Daneri — Caminhoneiro Mark
• Ray Young — Caminhoneiro Ray
• Gary Lee Davis — Caminhoneiro Gary
Após umas poucas cenas iniciais ficamos sabendo que Brenda é a proprietária do lugar. Bagdad Café é uma pequena parada para abastecimento de caminhões perdida no meio do deserto de Mojave, próximo a Las Vegas. Um lugar no meio do nada onde se reúnem improváveis representantes da fauna humana, como: um artista de Hollywood aposentado, o xerife indígena, uma tatuadora que também presta “outros serviços” a homens desacompanhados; e uma turista alemã que parece ser muito esquisita.
Breve dona Brenda irá conhecer a sra. JASMIN, turista recém-chegada da Alemanha. O que inicialmente as une é que ambas acabam de se separar de seus maridos. Fora isso, demonstram ter personalidades bastante diferentes e o convívio entre elas parece ter poucas chances de acabar bem.
Brenda, a mulher negra, é autoritária, durona e vive aos berros com todos a seu redor (a filha, o marido, o empregado). É a natureza áspera e rude do deserto. Os negócios não prosperam e ela parece não ter muito jeito para lidar com os desafios diários impostos por eles. Além disso, nada funciona direito no posto de serviços, onde nem mesmo a máquina de fazer café está inteira. Faltam mantimentos, equipamentos, falta ordem e limpeza, enfim, falta quase tudo. Por algum motivo, sra. Brenda fica desgostosa quando a forasteira , invadindo seu espaço, resolve ficar hospedada ali, e, pior ainda, quando decide fazer uma faxina no local. Este simples gesto corriqueiro provoca não o agradecimento, mas a ira da dona. Mal sabia Brenda que o gesto assim tão simples, iria trazer uma atmosfera de liberdade, entendimento e cooperação, contagiando as pessoas do lugar. Pura magia!
Linda a cena em que elas inicialmente se vêem. O que as une naquele instante é a perda recente do amor (maridos); mas, será que existe apenas um tipo de amor no mundo? Enquanto uma enxuga as lágrimas, a outra enxuga o suor e a poeira do árido deserto. Sra. Jasmin que nem devia estar hospedada num lugar tão inóspito, acaba se deixando ficar um pouco mais, como se algo a prendesse a Bagda Café.
“As palavras são poucas, e o silêncio é quebrado pela música de um velho piano e pelos gritos de Brenda. As raízes do caos e da hostilidade cresciam fortes até o momento que Jasmim surge, igualmente perdida e esquecida, mas guiada por sonhos e penetra como hóspede naquele mundo duro e seco. Inicialmente hostilizada por Brenda, conquista espaço aos poucos e de repente, estão todos se ajudando como num passe de mágica. Jasmim limpa, organiza e harmoniza o bar-café e o transforma num ponto de parada obrigatória para motoristas que passam pela região. E cresce, então, a flor dos sonhos, cobrindo as raízes secas da amargura. Desde o início, Rudi Cox foi o único que a compreendeu, talvez por ser pintor tenha conseguido ver luz onde havia apenas sombras. E Jasmim torna-se a amiga estrangeira que fascina e compreende os filhos de Brenda; torna-se a mulher que alimenta as fantasias do velho pintor solitário; e passa a ser a companheira da dona do Café Bagdad. Jasmim, a enorme alemã, liga-se a Brenda, a negra de corpo mirrado, mas ambas são fortes. ‘Bagdad Cafe’ é um filme de contrastes onde surgem as identificações.” Ver refer.completa em: www.pintandomusica.blogspot.com/2010/04/bagdad-cafe.html
A obra tem mensagens positivas sem cair no didatismo fácil. Solidariedade – participação – entendimento – respeito mútuo e empatia, são alguns valores que permeiam o filme. A trilha sonora utiliza som ambiente local, que causa o efeito de nos aproximar ainda mais daquele micro universo. É o som do vento, do bumerang no ar, dos passos na areia do deserto. Lá pelas tantas ocorre uma reviravolta no enredo a partir de gestos simples, pequenas ações realizadas pela turista alemã.
No final fica evidente o protagonismo feminino, a tal ponto que quando Jasmin é pedida em casamento por Rudy (Jack Palance) – declara que vai consultar dona Brenda a respeito. O filme todo é carregado de inferências, metáforas e simbolismo, de tal modo que vale a pena ser visto mais de uma vez para que sejam captadas determinadas sutilezas, invisíveis ao primeiro olhar.
(elisilvéria 20set2010)
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A Origem- Diretor: Christopher Nolan
Elenco: Leonardo DiCaprio, Marion Cotillard, Ellen Page, Cillian Murphy, Joseph Gordon-Levitt, Ken Watanabe, Michael Caine, Tom Berenger
Produção: Christopher Nolan, Emma Thomas
Roteiro: Christopher Nolan - Ano: 2010
(por Pássaro Preto)
Quer dizer, não que não tenha coisas boas no filme. Eu assisti lembrando daquela cena do Amadeus em que Mozart explica ao perplexo rei por quanto tempo ele conseguiria introduzir novos personagens em uma cena de ópera. A Origem faz isso melhor que nenhum outro filme que eu me lembre.
Não se trata de "montagens paralelas" - isso tem de monte no cinema - mas de rupturas que, ao quebrar a sequência narrativa, imprime novas camadas de significação. Como se o diretor perguntasse pra nós: -quantas novas narrativas eu sou capaz de fazer você engolir sem que (e isso é importante) se rompa o fluxo de temporalidade radicalmente, em negativo. Ou seja: para que continuemos em Hollywood, e não passemos para Godard. Para que seja um filme do gênero assalto, sem tornar-se cinema experimental. E são muitas as camadas envolvidas de fato... A melhor, eu acho que é a relação estabelecida com o cinema, como são todos os efeitos e enredos espetaculares, que no fundo não passam de uma forma de introduzir uma ideia bem simples - encomendada por um megaempresário poderoso - em nosso subconsciente. Essa é boa porque não aparece tão mastigada quanto outras, mas diluída na própria ação do filme.
O problema do filme é justamente que, para sustentar sua arquitetura faraônica e mirabolante, o diretor tem que chamar a atenção para ela - A ESTRUTURA - incessantemente. Tem de repetir o filme inteiro que a mente que adentramos é na verdade do Di Caprio, que é ele tentando superar um trauma. Os demais personagens acabam se tornando rasos, meras engrenagens; dispositivos que fazem caminhar o talento egocêntrico de Nolan, que se sobrepõe à obra. A arquitetura do filme é sobrevalorizada, colocando em segundo plano o conteúdo. É só comparar a falta de carisma e profundidade dessas personagens (mesmo Di Caprio é menos profundo que o esquema em que se envolve) com o Cavaleiro das Trevas, onde a grandeza do enredo de ação contribui para aprofundar ainda mais a relação de complexidade entre as personagens. No caso da Origem, todos são coadjuvantes. Daí o paradoxo da estrutura ser complicadíssima, ao mesmo tempo em que se esforça por tornar óbvias as camadas de profundidade e relações feitas, sem deixar espaço para um questionamento do espectador. O filme é um quebra cabeça estrutural (muito bem feito e que tem sentido, ao contrário do que andam falando), que, ao ser resolvido, deixa tudo como está. De novo, bem diferente do Coringa, um ponto de vista que não pode ser levado até o fim pela Indústria.
O problema estrutural básico do filme é que à complexidade radical da forma não corresponde uma complexidade de conteúdo, ou ainda, a complexidade formal só se sustenta por uma atomização do conteúdo. A forma que Nolan escolhe para manter o espectador por dentro do que está acontecendo sem se perder, é deixando por demais evidente o que está acontecendo. O óbvio ululante, um quebra cabeças de mil peças, que ao final, é uma imagem do Cebolinha com a Mônica, exagerando um pouco. Ele se prepara para questionar a estrutura do cinema, mas produz um espetáculo grandioso em que o sujeito (no caso, Nolan), em sua forma espetacular é celebrado - de novo, não é por ser um filme hollywoodiano. O Cavaleiro das Trevas também é, e consegue ser bem mais questionador, sem deixar de ser o mais empolgante filme de ação do ano. A Origem não consegue se decidir. Não que não existam surpresas; o filme é feito de surpresas, mas essas são preparadas por um caminho bem posto, tranquilo até certo ponto. Algo do tipo: oh, aqui parece ser só ação, mas também tem a questão psicanalítica, viu? Olha aqui a mulher reprimida. O filme peca por didatismo em vários momentos. Por personagens que tem função didática, por um enredo que também mantém, apesar de tudo, certo didatismo: o chato do Di Caprio tentando superar seu próprio trauma do jeito mais mirabolante possível.
09.set.10
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HACHIKO: A dog’s story – EUA, 2009, ganhou em português o título de SEMPRE AO SEU LADO. Elenco: Richard Gere ....... prof.Parker Wilson; Sara Roemer......... Andy Wilson; Joan allen.......... Cate Wilson; Cary-Hiroyuki Tagawa.......... Ken Jason Alexander.
Baseado em fatos reais, tocante pela simplicidade do enredo, tem competente direção do sueco Lasse Hallstrom.
Acima de tudo, Sempre ao seu Lado é uma história de Amor Sincero e grande Lealdade. Originalmente publicada em livro, se passa no Japão, mas tem carga dramática universal. A dedicação do cão a seu dono (prof. Eisaburo Ueno// Parker, na versão norte americana), tem características tão extraordinárias, que o animal veio a receber homenagem no Japão, em 1934, quando ainda vivia.
“ Todo ano em 8 de abril ocorre uma cerimônia solene na estação de trem de Shibuya, em Tóquio. São centenas de amantes de cães que se reúnem em homenagem à lealdade e devoção de Hachiko, fiel companheiro do Dr. Eisaburo Ueno, um professor da Universidade de Tóquio. A comovente história do Chu-ken Hachiko (o cachorro fiel Hachiko) rendeu um livro e um filme chamado "A História de Hachiko", mas, sobretudo, colaborou sobremaneira para que a reputação da raça se tornasse famosa em todo o mundo, além de impulsionar um apaixonado movimento de restauração e preservação da raça Akita em seu país de origem, o Japão.” Vide texto completo em: http://www.nucleopet.com.br/htms/npet42-blog-historia-hachiko-monogatari.htm
Na história verdadeira, professor Ueno morava em Shibuya, subúrbio de Tóquio, perto da estação de trem que levava (e ainda leva) o mesmo nome. Como fazia do trem seu meio de transporte diário até o local de trabalho, já era parte integrante da rotina de Hachiko acompanhar seu dono todas as manhãs. Caminhavam juntos o percurso que ia de casa à estação de Shibuya. Porém, ainda mais incrível era o fato de que Hachiko parecia ter um relógio interno, e sempre às 15 horas retornava à estação para encontrar o professor, que desembarcava do trem à tarde, para acompanhá-lo de volta a casa.
Agradam-me sobremaneira alguns recursos utilizados para atualizar o drama a fim de torná-lo mais palatável. Nessa versão moderna, temos o professor que dialoga com pessoas de origens diversas. Por exemplo, a bibliotecária é negra, enquanto o vendedor de cachorros quentes tem características nitidamente árabes – elementos que, muito provavelmente, não estão presentes na história original. Isto é Hollywood, sempre tentando dar um ar de cosmopolitismo a suas obras.
Mas voltando à história, quando o pequeno Hashi completou dois anos aconteceu a tragédia que marcaria a sua vida e também a vida daquela comunidade. Com a morte do professor, o cão infalivelmente continuava voltando à estação de trem (pela manhã e à tardinha) para esperar seu dono.
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O filme tem umas sacadas de direção bem interessantes (principalmente a trilha sonora, que dá o grau de tristeza, ritmo e persistência) e a forma como é traduzido aquele amor acaba por amolecer até os corações mais duros. Não tem como: todo mundo chora. Parece que a edição já é feita exatamente para provocar isto. Até podiam oferecer uns lencinhos de papel na entrada do cinema. A publicidade há muito descobriu que “cachorro vende”. No filme, a catarse é imediata com alguma lembrança perdida nos umbrais de nossa memória.
Uma das cenas que mais me agrada no filme norte-americano, é quando o amigo do prof. Parker, sr. Ken (Cary-Hiroyuki Tagawa) - conversa em japonês com o akita. Então declara que sabe o porquê de o animal dia após dia ter de comparecer na estação de trem. Esta é sua missão na vida e a prova definitiva de que laços invisíveis e poderosos unem a todos os seres vivos. Que todos dependemos uns dos outros e vivemos ligados na mesma vibração que nos influencia e nos leva ao crescimento espiritual ou às trevas.
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Por aqui também temos nossos heróis de quatro patas. Como prova de que esse tipo de coisa não acontece apenas no Japão, temos o caso do Bode Bito, de Riachão do Dantas, em Sergipe, que no ano 2007 foi homenageado com uma estátua em tamanho natural. Um agradecimento da cidade ao ser que ajudou a divulgar o nome da pequena Riachão nos quatro cantos da terra. Vale a pena conhecer mais de perto essa história real. In: http://noticias.terra.com.br/popular/interna/0,,OI1873987-EI1141,00.html
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eli silvéria 08set2010