Belo filme, carregado de delicadeza e sensibilidade. Através dele ficamos sabendo que, na África, todos os nomes (de pessoas) têm um significado. WARIS – nome da nossa protagonista, quer dizer “Flor do Deserto”.
A história também ajuda a desnudar aspectos da cultura africana (ao menos um pouquinho) – trazendo à luz esse continente tão imenso quanto desconhecido por nós. Que geralmente é referido como sendo um país único, quando na verdade são mais de cinquenta países.
O filme põe por terra a idéia vulgar de que pessoas muito bonitas não sofrem. Elas seriam como que bafejadas por um sopro de proteção divina contra as intempéries e a maldade humana. Opondo-se ao pensamento único, “nossa heroína carrega o deserto nos ombros”. Como ela mesma diz, praticamente o atravessou a pé até chegar a Mogadício. Depois, já adulta e gozando prestígio como top model internacional, numa entrevista que deu à Revista Marie Claire declarou ao mundo todo a sevícia sofrida aos cinco anos de idade, ainda em território africano.
A nós ocidentais fica difícil avaliar friamente o significado profundo de tal “operação”, que no entanto é parte intrínseca da cultura milenar, num lugar onde a mulher, às vezes, vale menos que uma vaca.Tradição de antes de Cristo, a cincuncisão feminina é extremamente violenta, invasiva, dolorosa e cruel, frequentemente colocando em risco a saúde e provocando a morte de muitas meninas.
Já adulta e famosa, quando perguntada sobre o “Dia que Mudou Sua Vida”, Waris referiu-se ao dia desse “sacrifício” como sendo o mais marcante de todos. Para mim, mera expectadora do filme, o dia mais importante de sua vida, foi quando ela descobriu que uma mulher pode manifestar sua sensualidade e curtir os prazeres do sexo, sem sentir-se culpada, ou deixar de ser uma pessoa honrada. Foi quando ela assumiu seu lado de humanidade plena, libertando-se das amarras da ignorância e do preconceito, disposta a lutar contra a invariabilidade da condição do ser mulher. As conquistas de Waris foram tamanhas, que ela hoje é embaixadora da ONU na luta contra a mutilação genital feminina. Mas ainda há um longo caminho a percorrer.
Atualmente a OMS (Organização Mundial da Saúde) calcula que três milhões de meninas passem por isso a cada ano. “As coisas estão melhorando, mas não é o suficiente. O que me deixa doente é que os políticos do mundo não levam a questão a sério porque, no fim das contas, é um ‘problema de mulher’, algo relacionado à vagina. Muitos argumentam dizendo que ‘isso é religião’ ou ‘é a cultura dos outros’, quando na verdade é um crime. Especialmente quando ocorre com garotas pequenas que não podem se defender”,.... Leia em : http://revistamarieclaire.globo.com/Revista/Common/0,,EMI121912-17637,00-O+BRASIL+NAO+TEM+IDEIA+DO+QUE+E+A+MUTILACAO+FEMININA+DIZ+EX+MODELO+WARIS+DI.html - Revista Marie Claire –
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WARIS DIRIE Não é Naomi Campbel
O filme “Flor do Deserto” é daqueles que nos instigam a querer ler o livro para saber mais. Por esse motivo, dirigi-me até à Biblioteca Pública, na esperança de encontrar o romance original em que se baseou. Antes de mim, outras pessoas haviam tido a mesma inspiração, daí percebi que muitos brasileiros continuam achando que todo preto é igual. Ou seja: alguns viram o filme e continuam - erroneamente - pensando que acabaram de assistir à história de Naomi Campbel. Ambas são modelos, mas as semelhanças param por aí.
Naomi é inglesa, nascida em Londres, notabilizando-se pelos arroubos, agressões aos colaboradores e pelo genio explosivo. Sua característica principal é o cabelão escorrido, herança dos avós de origem oriental.
Waris Dirie é africana nascida na Somália, um dos países mais pobres do mundo.Ao contrário da outra, ela é “do bem”, tendo se destacado na luta contra a mutilação genital feminina ainda hoje praticada amplamente nos países muçulmanos africanos, no mundo árabe, além de comunidades de imigrantes espalhadas pela Europa e EUA. Em reconhecimento a sua coragem e persistência, foi designada embaixadora da boa vontade da ONU. Embaixadores da ONU costumam ser pessoas escolhidas a dedo pelo caráter exemplar e modelos positivos na sociedade onde atuam.
A lista de celebridades ligadas à ONU, é extensa. Alguns nomes conhecidos por nós: Michael Douglas, Angelina Jolie, Brad Pitt, George Clooney, Nicole Kidman, Shakira e Antonio Banderas; e os brasileiros: Renato Aragão e Ronaldo (Fenômeno).
Essa aí embaixo é Waris Dirie numa pose clássica.
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