“A naturalização de extremos leva ao predomínio da tradição, quando faltam elementos para questionar e combatê-la.”
Montanha Cega (Mang shan)
China (República Popular da)
2007
Gênero: Drama
Duração: 99 Min. Produtora: Europa Filmes Direção: Yang Li Elenco: Huang Lu
Pode não parecer, mas o ser humano está evoluindo.
Antes, a escravidão era um regime universalmente aceito, explicado por motivações políticas, econômicas, e até mesmo pelo determinismo geográfico ou das “raças”. No século XIX era comumente aceito que o progresso de uns estivesse assentado sobre a exploração de outros.
A história é um processo dinâmico e desde meados do século XIX deixou de ser considerado de bom tom ser identificado como traficante de seres humanos. Até mesmo o Brasil, cedendo a pressões internacionais, abandonou oficialmente aquelas práticas, sendo um dos últimos países do mundo ocidental a conseguir superar tais limites. Contudo, na China, início dos anos 1990, essa indignidade persistia.
Aqui começa a história de BAI XUEMEI, retrato da escravidão moderna. Jovem, recém formada na universidade, ela deixa o lar paterno com intenção de ir trabalhar numa província distante. Pouco depois, percebe, de forma brutal, ter sido enganada pelo pseudo contratador, para vir a ser apenas mais um número estatístico dentre as mulheres seqüestradas para serem “esposas”. Bai Xuemei é recém-formada e não consegue encontrar emprego. Ela conhece uma jovem mulher que a apresenta ao Gerente Wu, sendo contratada para viajar com eles para vender ervas medicinais em uma aldeia no norte da China, onde imperam as relações patriarcais.
MONTANHA CEGA é quase um documentário. Cenas duras e realistas de uma China pós Revolução Cultural, que se mantém encoberta , revelando muito pouco de si mesma. O país, nos anos 1980 incentivou casais a diminuírem o número de filhos, o que levou à preferência por bebês do sexo masculino. Parêntese: no filme vemos o que acontece a um bebê menina (provavelmente indesejado...) Mas isso, é claro que eu não vou contar... Diante do excesso de homens e da falta de mulheres, em determinado momento o inevitável iria acontecer.
Na China, a preferência dos pais pelo filho de sexo masculino é uma tradição profundamente arraigada, desde a idade feudal. No filho homem concentra-se a responsabilidade de manter os pais quando idosos, de possibilitar-lhes um enterro solene, de fazer as oferendas sobre os túmulos deles para as necessidades após morte, conforme a tradição confuciana. Somente o filho homem é o único herdeiro dos bens da família. (extraído do site http://www.pime.org.br/mundoemissao/demografiaunico.htm)
Nesse filme, o que mais me tocou não foi a frieza da comunidade do entorno, quando preferia não tomar conhecimento do sequestro e servidão a que muitas jovens eram submetidas. Ainda mais emblemático é que TODOS -na aldeia e na cidade- pareciam saber, mas preferiam a "naturalização” do extremo, em prol da hegemonia da cultura e tradição, negando-se a buscar elementos novos que questionassem aquilo que existia desde sempre. Entendiam ser NATURAL recorrer a um crime, desde que ele apontasse para a solução de um PROBLEMA comum de todos. Mas a noção de crime, erro, pecado, também é relativa.
Produção barata em enredo simples com atuação competente de HUANG LU, que encarna a jovem raptada e consegue transmitir grande carga dramática a seu personagem, que jamais desiste de lutar contra tudo para reaver o bem supremo: a Liberdade. A cena final é surpreendente e acabou provocando um risinho (nervoso, talvez?) de alguns expectadores.
òtimo o texto consultado: “CHINA: A tragédia do filho único”. Ver site acima.
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(elisilvéria)
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